Argentina ameaça dar outro calote da dívida
O Fundo
Monetário Internacional (FMI) advertiu os credores da Argentina sobre um
possível default da dívida pública (reportagem aqui). Não seria a primeira vez que esse país recorreria a método tão
ultrajante para a imagem da nação. No ano de 2001, em uma de suas piores
crises, esse mesmo país declarou moratória da dívida externa em torno do valor
de 100 bilhões de dólares (reportagem aqui). Salvo engano, este é considerado o maior calote da história.
A
coincidência é que o valor do possível calote alertado pelo FMI é também de 100
bilhões de dólares. Nas palavras do fundo, os “credores privados precisarão dar
uma contribuição significativa para que o país se restabeleça”. Esse termo
“contribuição” soa estranho! É comum o uso de eufemismos nesse tipo de situação
para amortecer o golpe desferido.
A
situação argentina não seria tão ruim caso ela possuísse ativos para honrar a
quantia devida. O gráfico abaixo mostra o nível de suas reservas internacionais
desde o ano de 1960. Veja que o volume cresceu ao longo das décadas, mas nunca
atingiu patamar como o das reservas brasileiras (por volta de 360 bilhões de
dólares atualmente) – no nosso caso, a discussão é sobre o excesso de reservas
internacionais (discuto isso aqui). Observe também como as reservas baixaram no
calor da crise de 2001: foram de 10 bilhões de dólares em 2002. O país fechou o
ano de 2018 com quase 70 bilhões de dólares, quantia insuficiente para fazer
frente aos 100 bilhões de dólares devidos atualmente.
Fonte:
Banco Mundial
Uma das
vantagens de possuir elevado nível de reserva internacional é a proteção para
eventuais saídas de capitais. Os credores do país se sentem mais seguros ao
perceber que há considerável quantidade de moeda para honrar os seus
investimentos. Podem interpretar tal nível como um correto gerenciamento da
economia, em particular, de suas contas externas. Assim, há um ciclo benéfico
entre maior quantidade de reservas, maior confiança do mercado e maior influxo
de capital.
O oposto
também é válido – sendo esse o caso argentino. Baixas reservas internacionais
mostram que o país pode não conseguir honrar toda a sua dívida. Que está
sujeito aos movimentos cíclicos do mercado internacional (imagine agora com a chegada do coronavírus). Os investidores se
tornam mais cautelosos em colocar capital nesse território, a não ser que o
país oferte algo para compensar o risco. Esse algo é uma elevada taxa de juros
para remunerar o capital investido. Não é coincidência o fato do banco central
da Argentina sustentar uma taxa de juros de 40% ao ano (reportagem aqui). Percepção do risco de investir no país e taxa de juros são duas
variáveis positivamente relacionadas.
No lado
do setor produtivo, esse cenário de baixas reservas internacionais e crescente
possibilidade de default da dívida afeta a produção e o emprego. Projetos de
investimento de prazo mais longo tendem a ser adiados ou mesmo cancelados,
multinacionais reconsideram a decisão de operar no país e as empresas operando
ficam mais reticentes em expandir a estrutura produtiva. Há também o efeito de
redução do capital disponível para as empresas, uma vez que o influxo de
capital externo deverá se reduzir. Sem poupança, não há investimento - regra básica de contabilidade nacional. Vendo
esse quadro e observando a forma como o mesmo é tratado pelo governo argentino
(veja uma amostra aqui), torna-se mais fácil entender a decadência econômica da
Argentina.
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