segunda-feira, 16 de março de 2020

Argentina em crise


Argentina ameaça dar outro calote da dívida

crise na argentina


O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu os credores da Argentina sobre um possível default da dívida pública (reportagem aqui). Não seria a primeira vez que esse país recorreria a método tão ultrajante para a imagem da nação. No ano de 2001, em uma de suas piores crises, esse mesmo país declarou moratória da dívida externa em torno do valor de 100 bilhões de dólares (reportagem aqui). Salvo engano, este é considerado o maior calote da história.
A coincidência é que o valor do possível calote alertado pelo FMI é também de 100 bilhões de dólares. Nas palavras do fundo, os “credores privados precisarão dar uma contribuição significativa para que o país se restabeleça”. Esse termo “contribuição” soa estranho! É comum o uso de eufemismos nesse tipo de situação para amortecer o golpe desferido.
A situação argentina não seria tão ruim caso ela possuísse ativos para honrar a quantia devida. O gráfico abaixo mostra o nível de suas reservas internacionais desde o ano de 1960. Veja que o volume cresceu ao longo das décadas, mas nunca atingiu patamar como o das reservas brasileiras (por volta de 360 bilhões de dólares atualmente) – no nosso caso, a discussão é sobre o excesso de reservas internacionais (discuto isso aqui). Observe também como as reservas baixaram no calor da crise de 2001: foram de 10 bilhões de dólares em 2002. O país fechou o ano de 2018 com quase 70 bilhões de dólares, quantia insuficiente para fazer frente aos 100 bilhões de dólares devidos atualmente.


Fonte: Banco Mundial

Uma das vantagens de possuir elevado nível de reserva internacional é a proteção para eventuais saídas de capitais. Os credores do país se sentem mais seguros ao perceber que há considerável quantidade de moeda para honrar os seus investimentos. Podem interpretar tal nível como um correto gerenciamento da economia, em particular, de suas contas externas. Assim, há um ciclo benéfico entre maior quantidade de reservas, maior confiança do mercado e maior influxo de capital.
O oposto também é válido – sendo esse o caso argentino. Baixas reservas internacionais mostram que o país pode não conseguir honrar toda a sua dívida. Que está sujeito aos movimentos cíclicos do mercado internacional (imagine agora com a chegada do coronavírus). Os investidores se tornam mais cautelosos em colocar capital nesse território, a não ser que o país oferte algo para compensar o risco. Esse algo é uma elevada taxa de juros para remunerar o capital investido. Não é coincidência o fato do banco central da Argentina sustentar uma taxa de juros de 40% ao ano (reportagem aqui). Percepção do risco de investir no país e taxa de juros são duas variáveis positivamente relacionadas.
No lado do setor produtivo, esse cenário de baixas reservas internacionais e crescente possibilidade de default da dívida afeta a produção e o emprego. Projetos de investimento de prazo mais longo tendem a ser adiados ou mesmo cancelados, multinacionais reconsideram a decisão de operar no país e as empresas operando ficam mais reticentes em expandir a estrutura produtiva. Há também o efeito de redução do capital disponível para as empresas, uma vez que o influxo de capital externo deverá se reduzir. Sem poupança, não há investimento - regra básica de contabilidade nacional. Vendo esse quadro e observando a forma como o mesmo é tratado pelo governo argentino (veja uma amostra aqui), torna-se mais fácil entender a decadência econômica da Argentina.

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