Políticas fiscal e monetária expansionistas podem mitigar os prejuízos da economia
As
previsões para a economia mundial, em geral, e para a brasileira, em
particular, são nebulosas para esse ano. Ainda ninguém tem uma dimensão clara
do impacto do Covid-19 sobre o crescimento econômico, mas o cenário que se
desenha é de uma grande retração da produção. Essa retração virá acompanhada de perda de empregos e falências empresariais. Indicadores sociais também devem
entrar nessa conta. Por isso, a palavra de ordem no momento é pragmatismo
fiscal e monetário, ou seja, enxurrar o sistema com liquidez, no caso do banco
central, e garantir a renda dos indivíduos, no caso do governo.
Finalizada
a Primeira guerra mundial (1914-1918), o clima de revanchismo contra os alemães
era enorme, e assim foi a elaboração do Tratado de Versalhes (1919). Uma onerosa
dívida foi imposta sobre a Alemanha, ao mesmo tempo quando esta perdia espaços
geográficos significativos para a sua produção – como a Alsácia-Lorena. Keynes
descreveu para o mundo tal quadro, com caracterizações precisas dos
representantes de cada nação, como foi o caso de Lloyd George, primeiro
ministro da Inglaterra, Clemenceau, comandante da França, e Wilson, presidente
dos EUA. Com a exceção desse último, os participantes do tratado o elaboraram
visando punir e rebaixar a Alemanha. Lord Keynes, por meio de seu best-seller,
As consequências econômicas da paz, mostrou não somente a impossibilidade de
pagamento da Alemanha, como também as consequências (trágicas) que ocorreriam
caso o excessivo fardo fosse imposto sobre ela. A eclosão da Segunda
guerra mundial em 1939 confirmou o prognóstico de Keynes (mais sobre Keynes aqui).
Ainda
nesse livro, Keynes propôs que os EUA concedessem vastos empréstimos para as
nações parcialmente destruídas (vencedoras e derrotadas) para auxiliar a
reconstrução da Europa. O economista britânico reconhecia o risco de convulsões
sociais, de amplos protestos, e a abertura para populistas e demagogos surgirem ao
prometerem o paraíso para a população. Esses empréstimos deveriam ser
subsidiados e com facilidades de pagamento. O Plano Marshall
após a Segunda guerra foi a concretização dessa recomendação.
Em uma
ótica puramente econômica, é benéfico para as economias individuais o
crescimento da economia mundial como um todo. Os fluxos comerciais e
financeiros tendem a crescer conforme alguns países prosperem. Estes fluxos,
por sua vez, são positivamente relacionados com o crescimento econômico. Há uma
ampla literatura que corrobora essa relação. Esse raciocínio foi um dos pontos
implícitos no Plano Marshall.
Voltando
ao ponto inicial desse texto. Não sei se algo como um Plano Marshall será
realizado. Todavia, ações nessa direção têm sido tomadas, como a ampliação de
liquidez por parte dos bancos centrais, como forma de contrabalançar a falta de
dinheiro das empresas. Na ótica fiscal, os governos estão criando mecanismos
para manter parte da renda dos trabalhadores e para sustentar a sobrevivência
de algumas empresas. Empréstimos com baixo custo e longa carência para pessoas
jurídicas é um acerto. Concomitantemente, medidas para evitar o
desabastecimento de produtos também têm sido tomadas. Dessa forma, no campo
econômico, pelo menos até o momento em que escrevo, o pragmatismo tem ganhado
terreno – com os devidos créditos para os eventos passados que, ao jogarem luz
sobre o presente, servem como bússola para a tomada de decisão.
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