domingo, 2 de fevereiro de 2020

Os preços, sempre os preços


A principal âncora da economia de mercado é a resposta para os dilemas ambientais


Preço ajuda a resolver questão ambiental

                                   Foto de Halanna-Halila

Nesse mês ocorrerá a 25ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, ou simplesmente COP25, em Madrid. O foco do evento será a discussão sobre o aquecimento global e a possível ascensão de medidas concretas para combatê-lo. Participarão aproximadamente 200 países com diferentes visões e objetivos políticos, econômicos e sociais. A realização de um acordo será tarefa hercúlea. 
Avanços podem ser vistos em alguns países, como a Suécia, a Suíça, a França e o Japão, nos quais há o esforço de reduzir a emissão de carbono pela tributação por tonelada emitida do gás. Mas as dificuldades abundam.
Em um mundo globalizado, caracterizado por grandes fluxos comerciais, a concorrência que grandes empresas enfrentam é internacional e não nacional. Isso significa que um pesado fardo tributário que determinado país imponha sobre sua indústria irá reduzir sua competitividade a nível mundial. Tal assimetria poderia ser resolvida caso os quase 200 países aceitassem tributar igualmente suas respectivas indústrias... Para dizer o mínimo, essa medida seria dificílima de ser implementada.
Outra alternativa é a imposição de quotas de emissão de gases. Mas essa opção esbarra nos mesmos problemas da tributação. Algumas economias já atingiram níveis mais avançados de produção, como os países da Europa Ocidental, enquanto outros almejam atingir esse nível, como as nações em desenvolvimento; como exigir que essas últimas limitem sua produção? Reclamações de favorecimento ao mundo desenvolvido são corriqueiras quando esse tipo de política é levantada por algum policymaker.
O ideal seria criar uma harmonia entre os desejos das indústrias que emitem gases com a meta ambiental. Felizmente o mecanismo do mercado de emissão de gás carbono resolve o dilema. Países que poluíssem menos que a meta acordada teriam créditos de emissão que poderiam ser vendidos para países que ultrapassassem a meta. Esse mecanismo exigiria apenas a formalização do mercado por parte do governo. Após isso as partes privadas e interessadas negociariam com base na meta de emissão pré-estabelecida, e consequentemente surgiria um preço de equilíbrio.
Argumento mais sutil é o de que os consumidores conforme tomem maior consciência dos efeitos negativos da produção de determinados produtos passem a boicotar marcas industriais que não produzam em conformidade com a conservação ambiental. O banco central dos EUA tem debatido uma postura similar; a autoridade monetária deixaria de comprar títulos emitidos por empresas que não respeitassem as restrições de poluição. Da ótica das empresas, isso representaria a queda de vendas e a perda de parte do mercado. Dificilmente um bom marketing conseguiria reverter a imagem negativa obtida pelo descaso com o meio ambiente. A regra de que o consumidor é o soberano na economia de mercado continua válida.
O caminho é esse: conciliar o interesse das indústrias com o das metas ambientais por meio de mecanismos de livre mercado. Pensar em soluções hollywoodianas como um discurso apaixonado exaltando a indiferença e a ganância dos humanos funciona em filmes – e, verdade seja dita, nos comove -, mas é mecanismo pouco prático para a vida real. O impacto das ações de ativistas,  como o da jovem sueca Greta Thunberg, deveria ser visto com muito mais parcimônia. Se algum efeito vier a ocorrer, espera-se que o seja sobre o comportamento dos consumidores. Para conciliar quase 200 países com diferentes estratégias, a experiência internacional mostra que o mecanismo descentralizado dos preços é o percurso mais confiável.

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