Maior diálogo com as lideranças sindicais pode ser o caminho para reformar a previdência do país
A França
sofre onda de protestos em virtude da reforma de sua previdência. Em linhas
gerais, o presidente Macron pretende unificar os diferentes regimes
previdenciários, reduzir o benefício da aposentadoria e elevar a idade mínima
para se aposentar. Os sindicatos responderam negativamente.
Milhares
de pessoas foram para as ruas para mostrar a insatisfação com essa austeridade;
linhas de metrôs estão paradas e, consequentemente, o cidadão francês enfrenta situação caótica em sua vida cotidiana. Outras categorias também estão
paradas, sinalizando que não irão recuar.
No
Brasil, a reforma da previdência também enfrentou resistência de sindicatos e de
movimentos sociais. As casas legislativas aceitaram algumas concessões e
felizmente a reforma foi aprovada em 2019. Talvez o quadro crítico das contas
fiscais do país tenha auxiliado na urgência de aprovar medida estrutural tão
impopular.
A
experiência mostra que quando adquirimos determinado padrão de vida e
comodidade, temos relutância em abdicar dele. Se adquirir algum direito é
difícil, perdê-lo é quase impossível. Não aceitamos facilmente reduções
salariais, por outro lado temos elevada propensão em elevar as despesas. A
tarefa de Macron é contornar essa tendência.
Caso o
povo francês rejeita a reforma, ele terá 3 opções para solucionar a
previdência. A primeira seria o aumento da tributação – medida também
impopular. A segunda é manter os direitos dos atuais trabalhadores e apertar as
regras de aposentadoria para as gerações futuras – o famoso deslocamento do
fardo para quem ainda não nasceu e é incapaz de participar do debate. Por fim,
pode-se apostar em maior crescimento econômico com o aumento concomitante da
arrecadação tributária – aposta arriscada, pois a tendência futura das
economias é crescimento econômico moderado.
Se o
Brasil vale como exemplo, a terceira opção mostra que quando o crescimento
econômico arrefece, as receitas tributárias também se reduzem, ao passo que as
despesas são mais rígidas, portanto, um potencial déficit orçamentário poderia surgir. A insistência nesse modelo de gestão termina por endividar o país e
acarretar em mais sérias dificuldades.
Em
resumo, a situação francesa é de cobertor curto. Ao tentar beneficiar
determinado grupo, algum outro será onerado. Macron terá de conseguir dialogar
com a população para mostrar a impossibilidade de conciliar todas as
reivindicações e a necessidade de ajustar o regime previdenciário para um
modelo mais austero.
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