Após livrar o mundo da fome, capitalismo se torna réu pela obesidade
O
excelente livro de Peter A. Ubel, Loucura do livre mercado, relaciona o aumento
da obesidade nos Estados Unidos com falhas no mercado. O argumento é de que o
mercado se forma em consonância com as decisões dos indivíduos, sejam estas
racionais ou irracionais. Quanto à falta de racionalidade dos consumidores em
determinados momentos, os mercados se aproveitariam para aumentar a
lucratividade ao mesmo tempo prejudicando a saúde do consumidor. Neste caso,
seria o incentivo de ofertar e incentivar alimentos poucos saudáveis utilizando
marketing para vendê-los. A imagem de hambúrgueres do McDonald sendo devorados
por pessoas obesas é tradicional nesse tipo de argumento (veja uma foto clássica aqui).
Ubel
está correto ao afirmar que o mercado é formado por uma mescla de racionalidade
e irracionalidade por parte dos consumidores, pois a oferta tende a seguir os ditames da demanda.
Empresários (oferta) buscam satisfazer da melhor forma possível os caprichos
dos consumidores (demanda). Também é preciso o papel do marketing nesse campo.
Empresas não gastariam milhões caso não obtivessem um retorno que compensasse
todo o gasto. O marketing é capaz de expulsar marcas que não consigam tornar os
seus produtos atraentes.
Vale
lembrar que exceto pelos dois últimos séculos, a humanidade sempre lutou para
fugir da fome. Era corriqueiro episódios de crise de fome. Foi o capitalismo
que praticamente eliminou esse problema – pelo menos para a grande maioria da
sociedade. Atualmente o problema recai mais na distribuição do que na produção.
Não é por acaso que o tópico desigualdade esteja em alta. Passada a euforia com
o capitalismo, agora ele é acusado de engordar de forma excessiva as pessoas.
O autor
aponta algumas medidas para melhorar o quadro, como maior transparência a
respeito das informações dos produtos. Um exemplo é a gordura trans, a qual,
caso não fosse proibida de fazer parte dos ingredientes, poderia ser indicada de
forma mais explícita, com um desenho, da mesma forma que associamos veneno com
o desenho de uma caveira com dois ossos – temos maior facilidade de assimilação
quando a informação é acompanhada com imagens.
Nesse
simples exemplo a liberdade do consumidor estaria preservada, e provavelmente
este tomaria uma melhor decisão quanto ao que comer. Mas Ubel avança nesse
campo, e sugere medidas mais fortes, isto é, mais intervencionistas, como a
proibição do consumo de determinados ingredientes.
Por trás
da argumentação de Ubel está o fato de que o motivo principal do avanço da
obesidade não seja unicamente das decisões do próprio consumidor, mas do
capitalismo, com toda a sua engenharia para vender mais produtos acoplada de
momentos de irracionalidade por parte dos indivíduos. É a responsabilidade
social entrando em cena.
Não se
pode negar que de fato exista a influência de programas e de propagandas para
consumirmos produtos pouco saudáveis. Da mesma forma, o marketing é usado para
direcionar nosso consumo para determinadas marcas, não necessariamente as mais
saudáveis. Mas em última instância, como é o caso de toda decisão que tomamos,
a responsabilidade é de nós próprios, de mais ninguém.
Quando
adquirimos qualquer produto, o último ato, o de pagar pela mercadoria, é
efetuado por nós, não pela sociedade e suas forças subjacentes. Se por acaso
delegarmos parte da responsabilidade para a sociedade, estaríamos criando precedentes para outros casos, como o de traição em relações conjugais, insucesso no
trabalho e fracasso ao tentar estudar um MBA ou
entrar em uma faculdade. A culpa não seria nossa, mas da sociedade. A
cultura machista, um ambiente excessivamente competitivo e falta de tempo para
estudar poderiam ser os respectivos responsáveis para os exemplos citados. Que
tipo de cidadão nos transformaríamos se a responsabilidade não fosse nossa, mas
de outro?
Dessa
forma, deve-se ter cautela sempre ao prescrever políticas públicas, ainda mais
as que têm por objeto a intervenção na esfera de liberdade de decisão dos
indivíduos. Ubel acertou ao recomendar maior transparência sobre os produtos,
mas pecou ao recomendar o crescimento do setor governamental sobre a liberdade do consumidor.
É fato que a busca por alimentos mais práticos é fruto do capitalismo. A associação entre matar a fome e o prazer de comer,vem muitas vezes, de ingredientes não saudáveis por ser mais barato para a industria, aliado ao marketing do produto.... afinal, as empresas não querem vender só o alimento,mas sim as boas sensações, o que causa a repetição do consumo. Quanto ao fato da distribuição ser desigual, é um tanto quanto notário: produzimos toneladas de alimentos, exportamos, atingimos os mais altos padrões, mas e as periferias do país? Como tem acesso ao alimento? Simplesmente não tem. Nosso país tem a cultura de jogar toneladas de alimentos fora do que tentar pensar em alguma política pública de distribuição, certamente porque envolve vários problemas como perecibilidde, logística, etc. Falha do capitalismo? Talvez, uma vez que só importa o lucro.
ResponderExcluirConcordo quanto ao desperdício. Uma forma de contornar isso seria criar algum mecanismo que alie a busca do lucro com a prática de reciclar o lixo.Alguns países inclusive trabalham para aprofundar e desenvolver esse tipo de atividade.
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