Não distorcer informações é prática recomendável para o correto gerenciamento de uma economia
Recentemente
o dólar atingiu o valor de 4,20 reais, e não será estranho caso o valor suba
ainda mais. As dificuldades de cunho econômico e político pelas quais o Brasil
atravessa, juntamente com as tensões no campo externo, em especial o atrito
entre os EUA e a China, contribuem para esse valor. Seria injusto não mencionar
fatos pontuais, particulares e – para fazer justiça – lamentáveis
protagonizados pelos políticos brasileiros, como declarações sobre um possível
Ato Institucional número 5 (AI-5); assertivas desimportantes, mas que
desvalorizam a moeda nacional.
Pense no
investidor estrangeiro que pouco conhece o país. Esse investidor observa os
principais índices para realizar o seu investimento. Tais índices variam,
podendo mostrar o desempenho da economia como um todo, o PIB, ou segmentos
específicos, como o mercado de ações, tendo o Ibovespa como principal
referência. Esse indivíduo é astuto e preocupado com o seu capital, e assim
sendo, sabe que medidas que flertam com práticas autoritárias, mesmo sendo
frases sem contexto, o deixam ressabiado. Ele teme que o seu capital possa ser
expropriado, e ao menor indício de desvio para um regime
ditatorial, ele retira o capital do país.
Moedas
como o shekel israelense e o baht tailandês, ao contrário do real, ganharam
valor em relação ao dólar. A revista The Economist apresentou dois fatores
domésticos para explicar o movimento: taxa de inflação e produtividade. A
primeira se relaciona positivamente com a taxa de câmbio. Em uma economia com
baixa taxa de inflação, como é o caso de Israel e da Tailândia, a taxa de
câmbio tenderá a ser baixa (o câmbio reduz de valor).
A
produtividade, por outro lado, mostra uma relação inversa com o câmbio. Países
produtivos, aqueles que conseguem fabricar bens e serviços de forma mais
rápida, tendem a ter a taxa de câmbio apreciada. O nível dos preços e a
produtividade são dois parâmetros que retratam o desempenho global da economia.
Economias mal gerenciadas normalmente apresentam preços descontrolados, vide a
Venezuela, e baixa produtividade, sendo o Brasil um exemplo.
Outros
fatores também influenciam a taxa de câmbio, como o influxo de capital
externo, o risco-país e o endividamento público. A autoridade monetária de cada
país também pode optar por controlar a taxa de câmbio; nesse caso, pode ser que
exista um valor (ou um intervalo) informal no qual o banco central deseja que o
câmbio apresente, e irá tomar medidas para atingir o objetivo. Por exemplo, se
o real começa a perder valor perante o dólar, uma típica desvalorização
cambial, o banco central pode vender dólares, reduzindo a sua reserva
internacional, mas controlando o valor externo do real.
Em
períodos conturbados o controle do valor externo da moeda se mostra
problemático. A crise financeira de 1997, na Ásia, evidenciou a fragilidade da
Tailândia em controlar o baht. Quando os investidores começaram a retirar
maciçamente o capital aplicado no país, as reservas internacionais do banco
central tailandês rapidamente se esgotaram, e a instituição pouco pôde fazer. O
resultado foi uma abrupta desvalorização cambial e o agravamento da crise. É
difícil controlar os preços em uma economia de mercado.
Livros-texto
de economia retratam as vantagens e desvantagens de controlar a taxa de câmbio.
Lembro que quando eu era estudante de graduação o argumento de maior
transparência para os agentes participantes do mercado não foi levantado. Assim
como controlar os preços de mercado não é recomendável, o câmbio, também um
preço de mercado, se beneficia pela livre flutuação. Preços regulados pelas
forças do mercado refletem a situação corrente da economia e auxiliam as
tomadas de decisões dos agentes, preços controlados distorcem o mercado e
perturbam a correta avaliação das condições da economia. A recente desvalorização
da moeda brasileira e as valorizações das moedas da Tailândia e de Israel dizem
muito sobre cada país.
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