sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Venezuela reage


O abominável dólar entra em cena para salvar a Venezuela de si mesma

Venezuela ficando pobre

Foto de Joia de Jong
Não é novidade que a Venezuela passa por uma avassaladora crise econômica, política, social e humanitária. Os venezuelanos não conseguem arrumar emprego, passam fome, produtos de higiene básica somem, como preservativos e papeis higiênicos, e o pior, talvez a somatória de todas as adversidades, há a crise política, com teor de guerra civil, ainda não explicitamente deflagrada. O fato da população imigrar para o Brasil evidencia a insustentabilidade da situação.
Bom, agora vem a parte da novidade. A taxa de inflação - que pode ser entendida como o aumento médio dos preços dos bens e serviços - da Venezuela, que era de incríveis 2.000.000% em 2019, caiu para meros 9.800% em 2020 (reportagem da The Economist aqui). Quase um milagre em termos de melhora econômica. E não será estranho se nos próximos meses os venezuelanos pararem de fugir do país, os alimentos voltarem a aparecer nas lojas e o clima do país melhorar.
Mas como? Desde que assumiu o comando do país, em 2013, implementando um regime autoritário, com delineamentos de perseguição política contra a oposição, Nicolás Maduro sempre defendeu práticas socialistas. Para desgraça e infortúnio da população, embora esta tenha o apoiado, Maduro não se restringiu apenas ao campo teórico, mas colocou em atividade o seu ideário. O seu instrumental pode ser entendido pelo controle dos preços (governo proibia empresários de elevar o preço de suas mercadorias), hostilidade em relação ao dólar, concessão de generosos subsídios (a gasolina é um destaque nesse campo) e perseguição à propriedade privada – leia-se: estatização e expropriação de empresas privadas.
Obviamente que tais medidas gerariam um resultado nefasto. Maduro quebrou a espinha dorsal que produz emprego e mercadorias e, portanto, riqueza para o país, o empresariado e suas respectivas empresas. Diversas marcas famosas abandonaram o país, como foram os casos da Coca-Cola, da LATAM, da Gol, a Bridgestone, entre outras (veja outros exemplos aqui). O pior foi que o presidente, mesmo percebendo a deterioração e putrefação da economia e, por conseguinte, da vida do venezuelano, insistiu nas práticas em andamento.
Foi nesse período que confidenciei a uma amiga que o único caminho para a Venezuela restabelecer a economia seria adotar políticas pró-mercado, políticas de livre mercado, políticas liberais, ou seja lá qual termo deseje dar, o nome não importa!, desde que representem o fortalecimento da liberdade de produzir, de comercializar e de transacionar. Maduro ignorou as lições do Partido comunista chinês, quando este implementou políticas pró-mercado na década de 1970 – abertura comercial e liberdade de investimento direto estrangeiro (multinacionais poderiam produzir na China) -, ao mesmo tempo, entretanto, mantendo o regime político centralizado. Quando o líder chinês foi questionado sobre tais políticas hereges, afirma-se que o mesmo tenha dito: “não importa a cor do gato, contanto que ele cace ratos”. Desde então a China é a nação que mais tem crescido nas últimas décadas. Maduro ignorou lições da história e se mostrou excessivamente míope com o resultado malogrado de suas políticas.
Mas os fatos são teimosos. Quanto mais o ditador insistia em seu modelo mal fundamentado e pernicioso, mais o país afundava em crise. O quadro se tornou tão deteriorado que não restaram muitas alternativas, sendo a opção por políticas pró-mercado a única saída. Não tenho muitos méritos em ter previsto tal guinada. Ou Maduro se afastava do poder e permitia que outro governante assumisse o poder, ou ele adotaria essas políticas e engoliria o seu orgulho – teria de aceitar o nefasto e abominável dólar entrar em ação.
E foi o que ocorreu. Maduro alterou o discurso, eliminou alguns controles de preços e incentivou transações com dólares. A economia rapidamente mostrou sinais de melhora. E a tendência é que melhore mais. A rapidez do progresso será proporcional ao arrependimento de Maduro com suas políticas socialistas. No futuro, se o ditador aceitar a entrada e permanência de dólares, respeitar o empresariado e não expropriar propriedades privadas, a Venezuela verá uma luz no fim do túnel. Um país próspero tem maior tolerância com pequenos desvios de seu governante, como o episódio no qual Maduro foi flagrado almoçando em um restaurante luxuoso na Turquia enquanto os venezuelanos passavam fome (vídeo do flagra aqui). Há um caminho no qual tanto ditador quanto população sairão beneficiados. Cabe a Maduro saber escolher com sabedoria desta vez.

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