O abominável dólar entra em cena para salvar a Venezuela de si mesma
Não é
novidade que a Venezuela passa por uma avassaladora crise econômica, política,
social e humanitária. Os venezuelanos não conseguem arrumar emprego, passam
fome, produtos de higiene básica somem, como preservativos e papeis higiênicos,
e o pior, talvez a somatória de todas as adversidades, há a crise política, com
teor de guerra civil, ainda não explicitamente deflagrada. O fato da população
imigrar para o Brasil evidencia a insustentabilidade da situação.
Bom,
agora vem a parte da novidade. A taxa de inflação - que pode ser entendida como
o aumento médio dos preços dos bens e serviços - da Venezuela, que era de
incríveis 2.000.000% em 2019, caiu para meros 9.800% em 2020
(reportagem da The Economist aqui).
Quase um milagre em termos de melhora econômica. E não será estranho se nos
próximos meses os venezuelanos pararem de fugir do país, os alimentos voltarem
a aparecer nas lojas e o clima do país melhorar.
Mas
como? Desde que assumiu o comando do país, em 2013, implementando um regime
autoritário, com delineamentos de perseguição política contra a oposição,
Nicolás Maduro sempre defendeu práticas socialistas. Para desgraça e
infortúnio da população, embora esta tenha o apoiado, Maduro não se restringiu
apenas ao campo teórico, mas colocou em atividade o seu ideário. O seu
instrumental pode ser entendido pelo controle dos preços (governo proibia
empresários de elevar o preço de suas mercadorias), hostilidade em relação ao dólar,
concessão de generosos subsídios (a gasolina é um destaque nesse campo) e
perseguição à propriedade privada – leia-se: estatização e expropriação de
empresas privadas.
Obviamente
que tais medidas gerariam um resultado nefasto. Maduro quebrou a espinha dorsal
que produz emprego e mercadorias e, portanto, riqueza para o país, o
empresariado e suas respectivas empresas. Diversas marcas famosas abandonaram o
país, como foram os casos da Coca-Cola, da LATAM, da Gol, a Bridgestone, entre
outras (veja outros exemplos aqui).
O pior foi que o presidente, mesmo percebendo a deterioração e putrefação da
economia e, por conseguinte, da vida do venezuelano, insistiu nas práticas em
andamento.
Foi
nesse período que confidenciei a uma amiga que o único caminho para a Venezuela
restabelecer a economia seria adotar políticas pró-mercado, políticas de livre
mercado, políticas liberais, ou seja lá qual termo deseje dar, o nome não
importa!, desde que representem o fortalecimento da liberdade de produzir, de
comercializar e de transacionar. Maduro ignorou as lições do Partido comunista
chinês, quando este implementou políticas pró-mercado na década de 1970 –
abertura comercial e liberdade de investimento direto estrangeiro
(multinacionais poderiam produzir na China) -, ao mesmo tempo, entretanto,
mantendo o regime político centralizado. Quando o líder chinês foi questionado
sobre tais políticas hereges, afirma-se que o mesmo tenha dito: “não importa a
cor do gato, contanto que ele cace ratos”. Desde então a China é a nação que
mais tem crescido nas últimas décadas. Maduro ignorou lições da história e se
mostrou excessivamente míope com o resultado malogrado de suas políticas.
Mas os
fatos são teimosos. Quanto mais o ditador insistia em seu modelo mal
fundamentado e pernicioso, mais o país afundava em crise. O quadro se tornou
tão deteriorado que não restaram muitas alternativas, sendo a opção por políticas
pró-mercado a única saída. Não tenho muitos méritos em ter
previsto tal guinada. Ou Maduro se afastava do poder e permitia que outro
governante assumisse o poder, ou ele adotaria essas políticas e engoliria o seu
orgulho – teria de aceitar o nefasto e abominável dólar entrar em ação.
E foi o
que ocorreu. Maduro alterou o discurso, eliminou alguns controles de preços e
incentivou transações com dólares. A economia rapidamente mostrou sinais de
melhora. E a tendência é que melhore mais. A rapidez do progresso será
proporcional ao arrependimento de Maduro com suas políticas socialistas. No
futuro, se o ditador aceitar a entrada e permanência de dólares, respeitar o
empresariado e não expropriar propriedades privadas, a Venezuela verá uma luz
no fim do túnel. Um país próspero tem maior tolerância com pequenos desvios de
seu governante, como o episódio no qual Maduro foi flagrado almoçando em um
restaurante luxuoso na Turquia enquanto os venezuelanos passavam fome (vídeo do
flagra aqui). Há um
caminho no qual tanto ditador quanto população sairão beneficiados. Cabe a
Maduro saber escolher com sabedoria desta vez.
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