Ulrich mostra os benefícios do bitcoin e acerta em algumas de suas previsões
Fernando
Ulrich é mestre em economia pela Escola Austríaca, e assim sendo, um dos seus
representantes mais ativos atualmente, ajudando a disseminar o pensamento
libertário. Tem passagens nos mercados imobiliário e financeiro e na indústria
de elevadores. Possui um canal no Youtube sobre investimentos (link aqui) e
esporadicamente escreve no site do Mises Brasil (link aqui). O livro Bitcoin se
integra no seu esforço em disseminar as ideias favoráveis ao livre mercado.
O
objetivo do livro é mostrar ao público o que é o Bitcoin e desmistificar alguns
dos receios mais comuns – o tom do autor é de otimismo em relação ao
desenvolvimento das moedas digitais. Ulrich inicia a obra conceituando o Bitcoin, que nada mais é do que uma moeda dentro da classe das moedas digitais
– recente evolução do capitalismo voltado para o mundo digital. O termo Blockchain se refere ao registro público de todas as transações envolvendo o Bitcoin, e nisso percebemos que é incorreto inferir que as transações
envolvendo a moeda ocorrem em um vácuo. O que ocorre é que os proprietários de Bitcoins podem usar pseudônimos para garantir maior privacidade.
Uma das
grandes vantagens dessa moeda é a ausência do intermediário financeiro para
realizar a transação. Atualmente, por exemplo, quando realizamos uma compra por
cartão de crédito, a transação é registrada pela empresa Visa, multinacional
dos Estados Unidos. Ela registra e direciona a troca de dinheiro entre as
partes envolvidas – esse é o procedimento padrão quando utilizamos cartões como
pagamento. Com o Bitcoin, elimina-se esse intermediário, e junto a ele os
custos operacionais da intermediação, ou seja, a transação se torna mais
barata. Eis um grande incentivo para a disseminação das moedas digitais. Ulrich
explora muito bem esse ponto, mostrando as consequências que poderiam
ocorrer na forma como vivemos.
Vale
destacar a perda de poder do Estado com a moeda nacional. Na maioria dos
países, o Estado emite papel-moeda para servir de moeda nacional. É um típico
monopólio. Apenas o banco central detêm essa prerrogativa. Com ela, a
autoridade monetária pode controlar o valor da moeda – e de fato essa função é
exercida. Caso a economia esteja um pouco fraca, gerando poucos empregos –
exatamente a situação brasileira -, o banco central pode emitir mais
papel-moeda para estimular a atividade econômica. A contrapartida usual é a
queda da taxa de juros e o posterior aumento dos preços, isto é, inflação. A
inflação é a perda de poder de compra do dinheiro, da moeda que usamos, da
moeda controlada unicamente pelo Estado – conseguimos comprar cada vez menos
bens e serviços com a quantidade original de moeda utilizada previamente.
Ulrich
relaciona esse mecanismo de controle da moeda com a ascensão do Bitcoin. Em
circunstância de hiperinflação, com a Venezuela exemplificando o tema, a
população abandona a moeda nacional e procura por moedas alternativas – no caso
dos venezuelanos a moeda escolhida foi o dólar, mesmo o Estado tendo o
proibido. Dessa forma, o Bitcoin pode funcionar como uma válvula de escape para
o gerenciamento incorreto da moeda nacional pelo governo. A população teria a
opção de usar outra moeda e, consequentemente, proteger e sustentar o seu poder
de compra.
Trabalhos
acadêmicos têm confirmado essa proposição sobre o Bitcoin. Moedas digitais
tornam a autoridade monetária mais cautelosa em depreciar a moeda nacional,
portanto, melhorando a administração da mesma. Além disso, o Bitcoin pode
funcionar como ativo financeiro no portfólio de investidores. Em geral a
maioria dos ativos são correlacionados de forma mais ou menos forte com as
vicissitudes das economias nacional e mundial. O Bitcoin, por outro lado,
mostra inexistente ou baixíssima correlação com os eventos econômicos,
servindo, portanto, como objeto que reduz a exposição da carteira de
investimentos – Ulrich não explorou esse ponto, talvez porque o seu livro foi
publicado em 2014, e nesse período o uso do Bitcoin como ativo financeiro não
era muito difundido.
O autor
debate 3 frentes nas quais o Bitcoin tem sofrido ataques: volatilidade,
violação de segurança e uso da moeda por criminosos. Dessas desvantagens,
parece que as fortíssimas oscilações pelas quais a moeda passou no último ano
sejam as mais preocupantes para a evolução do Bitcoin
(reportagem aqui).
Sobre a segurança, os ataques de hackers se mostram preocupantes, bem como o
reduzido conhecimento a respeito dos riscos do mundo digital pela maior parte
do público. Por fim, acusar o manuseio da moeda por pessoas mal intencionadas é
uma crítica que pode igualmente ser direcionada para o papel-moeda que usamos –
não é o dinheiro em si que torna as pessoas criminosas.
O livro
é muito bem-vindo ao explicar o Bitcoin e suas possíveis consequências. É uma
tendência do capitalismo contemporâneo a ascensão de moedas digitais – vide a
intenção do facebook em lançar sua própria moeda virtual
(reportagem aqui).
Os debates envolvendo a preocupação de reguladores com essa moeda cristalizam o
prognóstico de Ulrich, o de que o Estado não ficaria apenas observando o
desenrolar dos fatos. Como todo poderoso que percebe ameaças ao seu domínio,
este toma atitudes. A história tem mostrado que é praticamente impossível deter
o avanço tecnológico, talvez o mais recomendado seja instruir o público para as
novas transformações da economia.
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