domingo, 9 de fevereiro de 2020

Resenha: Sapiens: Uma Breve História da Humanidade (Yuval Noah Harari)

Harari narra a história da humanidade e interpreta nossas instituições, valores e ideias

sapiens uma breve história


O livro Sapiens colocou o seu autor, Yuval Noah Harari, no hall da fama internacional. Está na lista dos livros mais vendidos do New York Times há várias semanas – com extrema justiça. E tomo a ousadia de afirmar que esse livro, embora não tenha a idade de que os livros clássicos possuem, já é um clássico.
A proposta do livro é descrever a história da humanidade de forma sucinta, desde os humanos caçadores e coletores até o presente momento. Para isso, Harari divide a história em 3 partes: revolução cognitiva (iniciada há 70 mil anos), revolução agrícola (iniciada há 12 mil anos) e mais recentemente a revolução científica (iniciada há 500 anos). A primeira representou o avanço do ser humano no domínio de técnicas rudimentares e no ato de pensar e se comunicar. A segunda o domínio se efetuou sobre algumas espécies de animais e plantas. Finalmente, a terceira revolução, a qual vivenciamos, são as inúmeras descobertas científicas e a utilização destas com o intuito de moldar o ambiente e melhorar as condições de vida.
Acontece que durante essa narração o autor não se limita apenas em descrever o que ocorreu, mas realiza sutis inferências, como o fato de não termos desenvolvido, durante a transição da revolução agrícola para a científica, “um instinto de cooperação em massa”, fazendo com que os homos sapiens se digladiem objetivando alcançar maior poder e domínio sobre os demais humanos.
Harari aponta o conflito de ideias entre a busca da igualdade concomitantemente com a busca de maior liberdade individual, tópico deflagrado desde a revolução francesa de 1789 e ainda não solucionado – e sem previsão de solução no futuro próximo. Para ele, são dois objetivos intrinsecamente distintos e, portanto, inconciliáveis: maior liberdade fere a igualdade, e maior igualdade reduz, necessariamente, a liberdade.
Talvez o ponto mais forte do livro seja sua teoria sobre os mitos. A história da humanidade é permeada por 3 mitos, sendo difundidos na ordem monetária, ordem política e ordem religiosa. A inter-relação e a conexão entre essas ordens cristaliza a ordem social e civil contemporânea. Destaque para a ordem monetária, fundamentada no dinheiro e nas suas ramificações, predominantemente na relação de credor e devedor.
De acordo com Harari, o dinheiro é um mito, algo que existe apenas porque acreditamos que exista – depende de nossa confiança, principalmente sobre o futuro. Nos eventos nos quais o público perde a confiança sobre determinada moeda, a ordem econômica se desequilibra, mostra e evidencia sua fragilidade. Portanto, é fundamental que a humanidade acredite no poder do dinheiro, e justifique, por meio dessa crença, todo o aparato criado para sustentar as engrenagens econômicas em funcionamento.
Outro ponto relevante é a argumentação de que a história é a união e o resultado de eventos circunstanciais e casuais – talvez até aleatórios. Não há uma programação sobre a ordem dos acontecimentos, pois a “história não pode ser explicada de forma determinista e não pode ser prevista porque é caótica”. Mostra a insignificância de tentarmos colocar algum objetivo de ordem elevada na vida humana, pois “de um ponto de vista puramente científico, a vida humana não tem sentido algum” – daí a importância dos mitos para moldar a sociedade. Por fim, Harari se posiciona sobre questões atuais como o consumismo e a destruição ambiental: “estamos destruindo os outros animais e o ecossistema à nossa volta, visando a não muito mais do que nosso próprio conforto e divertimento, mas jamais encontrando satisfação”. 
O livro termina com uma pitada um pouco pessimista, uma vez que o design inteligente, na medida em que pode alterar a genética dos indivíduos, pode inclusive pré-programar as características de cada pessoa ao nascer. Um super-homem, mais inteligente, mais resistente, mais forte – desde que assim os genes sejam programados – pode colocar um fim ao homo sapiens e dar origem a uma nova era. Também há considerações sobre a possível emergência de humanos amortais – não imortal, porque os amortais podem morrer por acidentes, mas não por envelhecimento, pois estruturas moleculares poderiam ser criadas para evitar o envelhecimento do corpo. Todas essas alternativas implicariam em fortíssimas modificações nas instituições e valores vigentes; um mundo sem precedentes pode ser o nosso futuro, seja para o bem ou para o mal.


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