É recomendável não confundir ciência com moralidade
É muito
comum algum analista afirmar que a economia deveria ser utilizada para gerar
uma sociedade mais equânime, enquanto outro analista aponta que a economia
deveria ser pensada para acarretar maior crescimento econômico. Ambos propõem
políticas econômicas sob a justificação do fim estabelecido. Atrelam a ciência
econômica à finalidades morais. Sugerem que o desenvolvimento da economia como
ciência deveria ser direcionado para culminar em determinado fim. Termos como
“justiça social”, “bem maior” e “felicidade” pululam em meio a esses discursos.
Os
termos citados no parágrafo anterior são vagos e imprecisos. Tome por exemplo
felicidade. Como definir felicidade? Como mensurá-la? Como pressupor que
felicidade pode ser atingida por todos pelo mesmo método, isto é, pelo
ajustamento da economia? Felicidade seria algo tão facilmente manuseável? O que
satisfaz determinada pessoa pode simplesmente não agradar outrem. É a vida.
É mais
do que comum a confusão entre um método e a busca de determinado objetivo. A
economia é uma ciência, assim como a física, a biologia e a matemática e, por
definição, é neutra em questões de finalidade. O teorema de Pitágoras ou a lei
da gravidade traçam regras que são observadas de forma sistemática; nos ajudam
a compreender o mundo no qual vivemos. Relacionar essas leis com conceitos de
certo e errado, justo ou injusto, não faz o menor sentido, é nonsense.
A
ciência econômica é uma ferramenta para entendermos fenômenos relacionados ao
mercado e para compreendermos relações de causa e efeito. A priori, não é um
caminho definido para gerarmos uma sociedade mais feliz. Caso nosso objetivo seja reduzir a
desigualdade de renda, a ciência econômica é útil em descrever possíveis
resultados que podem ser obtidos por meio de políticas. O mesmo é válido caso o
foco seja o crescimento econômico.
Nietzsche teve o mérito de mostrar como as sociedades adotam leis e regras morais
construídas ao longo do tempo. Mostrou como fatores religiosos, políticos e
econômicos se interconectam para moldar a moralidade vigente. A moralidade é
algo erguido e adotado pelos homens. Logo, somos amorais ao nascer, mas
educados para obedecermos à moralidade vigente. Ao guiar os desdobramentos da
sociedade, a moralidade pode utilizar a ciência como ferramenta para atingir os
seus fins. Observe que a ciência é apenas uma ferramenta, neutra por definição.
Isso é
nítido na utilização da ciência econômica para lograr algum objetivo. Se o alvo
é maior igualdade de renda, justifica-se o objetivo em pressupostos morais. Mas
veja que a economia é neutra, é apenas utilizável para esse fim. É importante
ressaltar que a ciência econômica é amoral, não se preocupa com quaisquer fins
– amoral porque não é conivente com a moral vigente e tampouco imoral, seguindo
o contrário. É indiferente a esses conceitos. Por outro lado, é permissível
usá-la para perseguir metas, conquanto tenhamos em mente o caráter distintivo
da economia com o da meta almejada.
Para
finalizar, toda essa discussão pode ser relacionada com o capitalismo.
Capitalismo é um termo que define a interação econômica de diversas pessoas,
com destaque para o ato de investir parte da renda – o capital - e obter um
retorno que compense o investimento inicial, e novamente repetir o ato. É um
fenômeno econômico, portanto, amoral por definição. Misturar moralidade com
economia deturpa o correto raciocínio da lógica de funcionamento das forças de
mercado.
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