sábado, 8 de fevereiro de 2020

Economia e moralidade


É recomendável não confundir ciência com moralidade

Ciência ajuda a entender o mundo

Foto de Casey Horner

É muito comum algum analista afirmar que a economia deveria ser utilizada para gerar uma sociedade mais equânime, enquanto outro analista aponta que a economia deveria ser pensada para acarretar maior crescimento econômico. Ambos propõem políticas econômicas sob a justificação do fim estabelecido. Atrelam a ciência econômica à finalidades morais. Sugerem que o desenvolvimento da economia como ciência deveria ser direcionado para culminar em determinado fim. Termos como “justiça social”, “bem maior” e “felicidade” pululam em meio a esses discursos.
Os termos citados no parágrafo anterior são vagos e imprecisos. Tome por exemplo felicidade. Como definir felicidade? Como mensurá-la? Como pressupor que felicidade pode ser atingida por todos pelo mesmo método, isto é, pelo ajustamento da economia? Felicidade seria algo tão facilmente manuseável? O que satisfaz determinada pessoa pode simplesmente não agradar outrem. É a vida.
É mais do que comum a confusão entre um método e a busca de determinado objetivo. A economia é uma ciência, assim como a física, a biologia e a matemática e, por definição, é neutra em questões de finalidade. O teorema de Pitágoras ou a lei da gravidade traçam regras que são observadas de forma sistemática; nos ajudam a compreender o mundo no qual vivemos. Relacionar essas leis com conceitos de certo e errado, justo ou injusto, não faz o menor sentido, é nonsense. 
A ciência econômica é uma ferramenta para entendermos fenômenos relacionados ao mercado e para compreendermos relações de causa e efeito. A priori, não é um caminho definido para gerarmos uma sociedade mais feliz.  Caso nosso objetivo seja reduzir a desigualdade de renda, a ciência econômica é útil em descrever possíveis resultados que podem ser obtidos por meio de políticas. O mesmo é válido caso o foco seja o crescimento econômico.
Nietzsche teve o mérito de mostrar como as sociedades adotam leis e regras morais construídas ao longo do tempo. Mostrou como fatores religiosos, políticos e econômicos se interconectam para moldar a moralidade vigente. A moralidade é algo erguido e adotado pelos homens. Logo, somos amorais ao nascer, mas educados para obedecermos à moralidade vigente. Ao guiar os desdobramentos da sociedade, a moralidade pode utilizar a ciência como ferramenta para atingir os seus fins. Observe que a ciência é apenas uma ferramenta, neutra por definição.
Isso é nítido na utilização da ciência econômica para lograr algum objetivo. Se o alvo é maior igualdade de renda, justifica-se o objetivo em pressupostos morais. Mas veja que a economia é neutra, é apenas utilizável para esse fim. É importante ressaltar que a ciência econômica é amoral, não se preocupa com quaisquer fins – amoral porque não é conivente com a moral vigente e tampouco imoral, seguindo o contrário. É indiferente a esses conceitos. Por outro lado, é permissível usá-la para perseguir metas, conquanto tenhamos em mente o caráter distintivo da economia com o da meta almejada.
Para finalizar, toda essa discussão pode ser relacionada com o capitalismo. Capitalismo é um termo que define a interação econômica de diversas pessoas, com destaque para o ato de investir parte da renda – o capital - e obter um retorno que compense o investimento inicial, e novamente repetir o ato. É um fenômeno econômico, portanto, amoral por definição. Misturar moralidade com economia deturpa o correto raciocínio da lógica de funcionamento das forças de mercado.

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