Nossos políticos são os principais responsáveis pelo crescimento do gasto público?
Não é
novidade o fato de que o nosso país está atravessando forte crise fiscal.
Também não é uma grande novidade afirmar que as reformas aprovadas (teto do
gasto público e previdência) e as que provavelmente serão aprovadas em um
futuro não muito distante (reformas administrativa e tributária) não resolverão
o buraco fiscal no curto prazo. Por que chegamos nessa situação?
A
resposta óbvia é que o Estado gastou mais do que arrecadou, ele não soube
reproduzir o comportamento austero da fábula da formiga com a cigarra, quando
no inverno a laboriosa formiguinha trabalhava, isto é, poupava, enquanto a
pródiga cigarra apenas aproveitava a vida. Bem, a metáfora se adequa ao caso
brasileiro.
O
gráfico abaixo mostra o resultado fiscal do governo brasileiro em proporção com
o PIB. O resultado fiscal engloba o gasto primário (gasto em educação, pessoal
empregado, saúde e segurança) mais o gasto com o pagamento de juros. Observe
que do ano de 2000, governo de Fernando Henrique Cardoso, até o último ano da
série, 2016, governo da chapa Dilma/Temer, tivemos déficit em todos os anos. A
primeira conclusão então é que embora a crise fiscal tenha emergido nos últimos
anos, o comportamento perdulário do Estado a antecede em muitos anos. Mesmo nos
anos 2003, 2004 e 2005, quando o governo de Lula implementou a redução do gasto
público, o resultado se manteve, o governo sempre gastando mais do que
arrecadando.
Fonte: OCDE
Das
explicações mais comuns sobre o endividamento, uma delas é o pagamento de juros
da dívida. Argumenta-se que o grande capital financeiro, ou elite financeira
internacional, ou ainda os centros financeiros (e nesse caso o Brasil seria a
periferia) se aproveitam ou exercem pressão sobre a taxa de juros brasileira
para extraírem riqueza, se comportando como rentistas. Entretanto, se o gasto
com juros é elevado, isso advém de uma grande dívida, a qual, por definição, é
uma consequência do gasto. Dessa forma, esse raciocínio nos leva a uma
tautologia: paga-se grande quantidade de juros porque o Estado gasta muito. O
problema permanece sem solução.
Outra
tentativa de resposta é a rigidez da despesa pública enquanto a receita é
flexível, ou seja, em momentos de crise econômica, quando o crescimento se
torna mais lento, a arrecadação tributária cairia, todavia, a despesa se
manteria estável. O resultado seria déficits orçamentários. Essa explicação não
está incorreta, sendo inclusive um dos fatores que culminaram nos crescentes
déficits da previdência. Todavia, não explica, a despeito da rigidez da
despesa, o porquê desta ser tão elevada e crescente ao longo dos anos.
Esse
texto poderia se alongar em discutir argumentos sobre as contas públicas, e
ainda assim não chegar a um lugar razoável. O ideal é buscar a essência do
problema. Meu palpite é que o Estado é gastador porque este recebe intensa
pressão da população para que assim o seja. Essa pressão é canalizada pelos
políticos eleitos e legalizada por meio de leis. Todos endossam tal
comportamento.
Faz
parte da cultura brasileira a utilização do Estado para a solução de suas
dificuldades, para quaisquer obstáculos, em quaisquer esferas da vida. O Estado
é paternalista, mesmo que não consiga atender de forma eficiente essa função.
Portanto, nós brasileiros somos responsáveis e cúmplices em relação ao estado
das contas públicas.
A
responsabilização do Estado pelas dificuldades que encaramos guarda estreita
relação com a falta de responsabilidade individual com o nosso destino. O
crescimento do Estado, isto é, a expansão do seu gasto, da sua rede de
proteção, da sua legislação, de sua função como árbitro de conflitos, confirma
o fato de delegarmos a nossa responsabilidade para essa entidade. Por outro
lado, se responsabilizamos outra parte pelo nosso destino, nos tornamos meros
coadjuvantes de nossa vida, não nos vemos como os principais agentes para a
realização de nossos objetivos, e principalmente para nossas falhas. Caso esse
comportamento não se altere, teremos o Estado se endividando gradativamente -
como se não existisse o dia seguinte, o dia que cobrará o preço dessa dívida.
Mas em matéria de economia o dia da cobrança sempre chega, pode demorar, mas
não tarda. A atual crise fiscal não me deixa mentir.
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