quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Coronavírus: um agente globalizado


Viver em um mundo globalizado na esfera econômica também implica viver em um mundo globalizado nas suas doenças

Coronavírus se espalha

Foto de Arek Socha, obtida no Pixabay

O coronavírus tem deflagrado ondas de temor e apreensão na China, ponto principal de difusão do vírus. O número de óbitos ultrapassou a marca de 400, e não há indícios de que ele irá estacionar nessa quantidade. Somente nesse país, há mais de 20 mil casos confirmados. Pior, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para o risco de contaminação global. No Brasil, há 14 casos suspeitos.
Eventos como esse geralmente exercem influência sobre a vida econômica, e o coronavírus não é exceção. A China já anunciou a queda do turismo e das vendas do comércio nas últimas semanas – o mesmo sendo válido para nações próximas, como a Tailândia. Potenciais turistas mudam de planos e preferem ficar em casa até que o coronavírus seja extirpado. O PIB chinês sofrerá consequências; este que já vinha desacelerando, perderá ainda maior ímpeto.
A economia chinesa, após décadas crescendo por volta de incríveis 10% ao ano, mostra enfraquecimento em continuar a expansão produtiva. Parte desse problema decorre do excesso de investimentos, muita capacidade produtiva, e pouco demanda – lembre-se de que o povo chinês tem a marca de apresentar elevada poupança. Há que considerar que muito desse investimento foi realizado com o braço e vigilância do Estado, portanto, a produtividade dessas empresas pode ser questionável e estar cobrando o seu preço – a China também apresenta desaceleração de sua produtividade, o que pode confirmar esse prognóstico.
Dessa forma, o coronavírus chegou em um péssimo momento para o gigante asiático (embora não exista bom momento para a chegada de qualquer vírus). Se o surto não for controlado, a confiança dos mercados irá despencar, levando consigo grande parte da economia mundial. A ordem monetária, de forma tão bem colocada pelo autor de Sapiens, Harari, é fundamentada pela confiança das pessoas. Enquanto estas acreditem que tudo continuará funcionando, o sistema mostra resiliência e sustentabilidade, por outro lado, caso as expectativas se deteriorem, os riscos se alastram.
Em um mundo globalizado, com países fortemente integrados comercialmente e financeiramente, a queda de algum deles pode desencadear em desastroso efeito dominó. E se essa peça for grande o suficiente, como é o caso da China, o futuro não será muito agradável. A crise financeira de 2007, iniciada nos Estados Unidos (EUA), mas propagada nos países da Europa Ocidental, corrobora esse temor.
É importante assinalar que o Brasil não é uma ilha isolada, estando igualmente sujeito a efeitos colaterais danosos. As vicissitudes da economia mundial podem não somente impactar a economia brasileira como também frustrar os planos de recuperação econômica elaborados pela equipe de Paulo Guedes. Espera-se que não caiamos no erro de pensar que o Brasil possa ser uma economia autossuficiente e, portanto, estar isolada dos ventos advindos da província asiática.

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