São indícios de que a condução da economia segue rota inadequada
Uma forma de avaliar o desempenho de uma economia é observar o comportamento de dois de seus preços: a taxa de juros e a taxa de câmbio. Quando há instabilidade no ambiente econômico essas variáveis tendem a se elevar de forma significativa. A não ser que os agentes percebam indícios de melhora no longo prazo, tanto a taxa de juros quanto a taxa cambial pressionarão para cima.
Sobre a taxa de juros, atualmente o Brasil enfrenta juros crescentes para financiar a sua dívida. A falta de coordenação e planejamento em realizar um ajuste fiscal, juntamente com flertes com uma possível flexibilização do teto do gasto, não ajudam. Caso tivéssemos uma sinalização crível de que faríamos o ajuste, mesmo que no futuro, os juros não pressionariam tanto, pois os credores precificariam essa melhora futura da economia.
Vamos ao câmbio. O gráfico abaixo mostra várias moedas em relação ao dólar. Valores em verde mostram moedas que valorizaram em relação ao dólar, ao passo que a cor vermelha mostra moedas que perderam valor. O Brasil é o último do gráfico, com 28% de desvalorização nesse ano. Está entre os países que apresentam as maiores depreciações da moeda nacional. Até mesmo a desajustada economia argentina teve desvalorização inferior à do real (22,3%).
Qual era o valor do câmbio real/dólar no início do ano? O próximo gráfico mostra essa informação. Começamos esse ano com a taxa de câmbio por volta de 4,40 R$/US$. Valor que já causava críticas por setores e pessoas afetadas. Hoje esse valor parece fora de realidade para o país. Não há indícios, no atual ambiente, de que o real irá voltar para esses níveis no curto prazo.
Dessa forma, a economia brasileira tem taxa de juros de longo prazo crescente e taxa de câmbio significativamente desvalorizada. Difícil não atribuir responsabilidade ao governo por conta dessas oscilações. As perguntas relevantes são: i) por que o real, entre tantas moedas, é uma das que mais se desvalorizaram? ii) se indícios de instabilidade econômica se acumulam, por que a administração permanece inepta? Para a primeira indagação, a resposta é risco fiscal. A situação da dívida pública é crítica, ao contrário das finanças públicas dos outros países. Na segunda questão, imagino que um mix de fatores possa explicá-la: proximidade das eleições, discordâncias dentro do próprio governo sobre cortar ou aumentar gastos, oportunismo de grupos de interesse (por exemplo, os 17 setores beneficiados pela desoneração fiscal), desinformação sobre o risco que o desajuste fiscal representa para a economia e crença de que os problemas se resolverão no futuro de alguma forma, ainda que não especificada (filosofia "deixa a vida me levar").
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