Sucessos e fracassos econômicos não ocorrem de forma fortuita
Comentei em texto anterior que o padrão de vida cresceu conforme o sistema de economia de mercado se corporizou e se difundiu no mundo. A data que marcou esse ponto de inflexão foi a Revolução Industrial (por volta de 1750). Mas não é um resultado automático. Temos hoje países que não conseguem avançar, notadamente as nações africanas. E aqui na América Latina, temos a Venezuela como exemplo de economia que se torna a cada ano mais pobre, ou seja, o padrão de vida da população está decrescendo gradualmente.
O gráfico abaixo, com dados do banco mundial, mostra a renda (PIB) per capita brasileira em reais (valores deflacionados). Essa variável é muito usada para mensurar o padrão de vida das populações. Veja que no ano de 2010 tínhamos uma renda per capita de R$ 19.855, e no último ano, o de 2019, ela caiu para R$ 19.565. Estamos estagnados em uma década sem avançar no padrão de vida. Como ainda o ano de 2020 não terminou, é muito provável que a queda de nossa renda per capita seja ainda maior, dado que o impacto da Covid-19 não está incorporado nos dados do gráfico.
Olhando para o gráfico, percebe-se que tivemos uma abrupta queda desde 2014. Não é por menos. O país sofreu pelo menos dois fortíssimos choques. O primeiro foi o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Impeachment é um processo doloroso, sendo moroso e prejudicial para o desenvolvimento da economia - por isso devíamos ser mais responsáveis ao escolhermos nossos representantes. O segundo choque foi o estouro da crise fiscal, processo semeado desde 2009, quando os gastos públicos passaram a aumentar de forma superior às receitas de forma sistemática. Fecharemos a década com o terceiro choque, mais letal e prejudicial, o da pandemia.
A relação positiva entre economia de mercado e padrão de vida somente é válida quando temos ambiente econômico estável, com instituições funcionando adequadamente e regras do jogo razoavelmente propícias para o desenvolvimento de mercados. Sem essas condições, vamos patinar, conforme já estamos o fazendo.
O país está se tornando mais pobre, com população com menos recursos e o governo com menor capacidade de realizar programas públicos. E a culpa desse retrocesso é inteiramente nossa. Talvez nas próximas eleições presidenciais, de 2022, a pauta de queda de padrão e qualidade de vida receberá maior peso.
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