Mercado de câmbio deveria ser visto como o resultado do comportamento de milhares de agentes
Nessa semana, a taxa de câmbio surpreendeu, reduzindo para valores próximos ao de R$ 5. A proximidade da distribuição das vacinas, uma possível imunização e subsequente retomada dos negócios trouxeram otimismo para os participantes do mercado.
Embora o encadeamento do raciocínio do parágrafo anterior esteja correto, ele não retrata com precisão o funcionamento do mercado de câmbio, e tampouco fornece os canais pelos quais o real se valorizou em comparação ao dólar.
Vamos por partes. Quando afirmei que o otimismo se elevou com o noticiário sobre os testes das vacinas, isso significa que as projeções de faturamento e lucro das empresas melhoraram, pois estas poderão exercer suas atividades com menores restrições. A chegada da Covid-19 impôs várias medidas proibitivas quanto ao deslocamento da população e quanto à atuação de firmas.
O prognóstico de um futuro mais promissor foi captado por investidores. Estes recolocaram os seus capitais em ações, debêntures e demais formas de financiamento. Tal movimento contribuiu para elevar o valor das ações em particular, e do mercado acionário, em geral. Observe que as empresas, agora com melhores perspectivas de produção e rentabilidade, contarão, além de menores restrições, com maior fonte de financiamento. É a famosa intermediação financeira: poupadores (famílias) deslocam os seus fundos para aqueles que irão utilizá-los (empresas).
Agora chegamos à taxa de câmbio. A entrada de dólares no mercado brasileiro contribuiu para a apreciação do real (pense na oferta e na demanda de dólares. A entrada de dólares representa o aumento da oferta, fazendo com que o valor do câmbio caia). Note que esse influxo de capitais não decorreu de poucos agentes, mas de milhões deles. O resultado agregado do comportamento individual empurrou a taxa de câmbio para o valor próximo de 5 reais por dólar.
Outros fatores têm atuado para acentuar a entrada de dólares, como a eleição de Joe Biden, nos Estados Unidos, e a retomada da discussão da agenda fiscal brasileira, uma vez que as eleições de novembro fazem parte do passado. Sobre esse último ponto, caso a equipe econômica consiga avançar nas reformas para flexibilizar e reduzir gastos estruturais, a tendência é de maior queda da taxa de câmbio.
A lição desse pequeno texto, portanto, é a de que o mercado de câmbio não deve ser visto como uma entidade. Essa confusão ocorre quando o tópico é o mercado financeiro. Muitos o tratam como se ele tivesse vontade própria. Na verdade, tanto o mercado financeiro quanto o de câmbio são formados pelas decisões de milhões de agentes. Suas oscilações decorrem de medidas tomadas por esse contingente de agentes, formado tanto por pessoas físicas quanto por pessoas jurídicas. Caso a taxa de câmbio continue a se reduzir, isso decorrerá, exclusivamente, das ações dos agentes econômicos, não pelo mercado em si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário