Moeda costuma dizer muito sobre o ambiente doméstico
Apesar da recente valorização do real frente ao dólar, terminaremos o ano como uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo. Veja no gráfico abaixo que a moeda brasileira acumula queda anual de 25%. Note também que países comparáveis com o Brasil (apresentam características semelhantes), como Chile, Rússia e Índia, os quais formam o grupo de economias emergentes, sofreram depreciações de suas respectivas moedas, mas não na mesma magnitude observada no caso brasileiro.
No próximo gráfico, perceba que a taxa de câmbio partiu de R$/US$ 4 e fecha o período a 5 reais por dólar. Nessa série, nosso pior momento ocorreu no mês de abril, quando o câmbio comercial quase atingiu o patamar de 6 reais por dólar. Foi nesse mês que a Covid-19 atingiu a economia em cheio, causando paralização e pânico nos mercados.
A questão relevante é por que o Brasil teve desvalorização tão aguda, dado que outras economias também foram atingidas pela Covid-19. A resposta está no último gráfico, retratando nossa conta fiscal. Nos últimos anos o país apresentou sucessivos deficits primários, especialmente no atual ano para combater os efeitos perniciosos da pandemia.
O risco de se investir em títulos públicos brasileiros se elevou (probabilidade do governo em honrar os pagamentos piorou e/ou investidores perceberam que cenário com descontrole do ambiente macroeconômico, com inflação descontrolada, se tornou mais provável). Esse risco é retratado tanto pelo aumento das taxas de juros de longo prazo quanto pela saída de dólares do país - esse último movimento explicaria, em maior parte, a depreciação cambial de 2020.
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