quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Realidades distintas

Prêmio de risco de investir no Brasil encarece emissão de nova dívida

gastos


Nessa semana, o governo dos EUA criou o segundo pacote de ajuda financeira para combater os efeitos da Covid-19. O primeiro pacote tinha sido de US$ 2,2 trilhões, enquanto o de agora será de US$ 900 bilhões. O Brasil, por outro lado, não tem pacote de auxílio programado, e adicionalmente declarou que a meta para 2021 é a de cortar gastos

Esse contraste não decorre de má vontade do governo brasileiro com a crise da pandemia. Antes mesmo da eclosão da Covid-19, as contas públicas estavam em trajetória de deterioração. A dívida pública/PIB tem crescido constantemente, flertando com o nível de 100% - nível incondizente com o desenvolvimento econômico de um país emergente. 

Já os EUA e a Europa - esta última também com pacote de medidas fiscais aprovado, totalizado em US$ 750 bilhões -, embora com elevados níveis de dívida/PIB, possuem maior facilidade de emitir nova dívida, pois a taxa de juros que a financia é baixíssima. Em alguns casos, abaixo da inflação, ou seja, os credores aceitam perder poder de compra ao adquirir essa dívida - a dívida desses países é vista como ativo seguro, logo, com baixo prêmio de risco (de ocorrer calote do devedor)

Realidade oposta é a do Brasil, que tem enfrentado crescentes taxas de juros de financiamento de sua dívida pública (conforme o quadro fiscal piora, o prêmio de risco se eleva, pois investidores aumentam as probabilidades de que não conseguiremos honrar nossos compromissos). Tanto é que recentemente o governo brasileiro buscou empréstimo internacional para financiar novas medidas contra a Covid - forma de evitar contrair nova dívida com taxa de juros elevada. A opção por endividamento externo em detrimento de endividamento interno é uma confissão das dificuldades que descrevi.

Portanto, em resumo, países ricos e desenvolvidos têm facilidade em contrair novas dívidas, pois enfrentam baixas taxas de juros. A dívida pública/PIB dessas nações, no longo prazo, tende a se reduzir, dada a natureza pouco onerosa dessa dívida e o crescimento futuro do PIB (denominador da rubrica dívida/PIB se elevaria, fazendo com que o total caísse). O Brasil, vivendo cenário mais duro, tem dívida crescente, com juros também crescentes. Criar pacote de auxílio financeiro por meio de emissão de dívida pública seria ato arriscado, temerário, talvez mesmo imprudente.










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