Conversão de escolaridade em maior produtividade não é processo que ocorre de forma automática
Uma forma de melhorar a produtividade dos indivíduos é elevar os anos de escolaridade. Com maior escolaridade, aprende-se novas técnicas, processos e otimizações. A produção tende a ser incrementada, pois esse indivíduo conseguirá entregar melhor resultado. O prazo de entrega desse resultado se reduz. Produção maior e menor tempo para gerá-la é a própria definição de aumento de produtividade.
O excelente livro Anatomia da Produtividade no Brasil (farei a sua resenha amanhã), em um de seus capítulos, investiga o porquê de não termos conseguido associar o aumento da escolaridade com maior produtividade. No período de 1992 a 2014, a média de anos de estudo do brasileiro subiu de 5 para 8 anos. Todavia, a produtividade pouco se alterou no mesmo período.
Dada a teoria e o observado em outras economias, esperaríamos, com razão, ganhos de produtividade. Uma hipótese levantada, e posteriormente confirmada pelo estudo, é a de que o pessoal com maior escolaridade se alocou em setores de baixo uso de escolaridade (chamados de setores tradicionais, como ramos de alimentação, vestuário), os quais se beneficiam pouco de indivíduos mais escolarizados. Já os setores que poderiam fazer melhor uso dessas pessoas não os alocou em maior número (os setores modernos, como o de finanças).
É um dos problemas estruturais da escolaridade no Brasil: a falta de conexão entre a formação de pessoas e a subsequente inserção delas no mercado de trabalho. Provavelmente o leitor tem conhecimento de exemplos de indivíduos que se formaram em determinada profissão, mas foram incapazes de conseguirem se alocar nas atividades desse ramo. Tiveram, nesse caso, de migrarem para atividades estranhas à formação. O resultado desse descasamento é a perda de produtividade (indivíduo não opera onde seria mais útil para a produção) e desperdício - ou mal uso - de dinheiro público (parte da formação do indivíduo pode ter se beneficiado de verbas do governo, ainda que seja de forma indireta, como subsídios para escolas particulares).
Não me parece evidente o motivo principal desse problema. O problema estaria no sistema de ensino, que não conseguiria formar profissionais adequados para suas futuras profissões? Ou a causa responsável seria o próprio mercado de trabalho, formado por firmas pouco eficientes (dada a estrutura da economia com baixa competição e relativamente fechada ao mundo)? No mesmo livro, há um capítulo que analisa dificuldades enfrentadas pelas firmas de inovação, e uma das conclusões é a de que o Brasil sofre de escassez de mão de obra qualificada. Se temos falta de mão de obra qualificada, por que quando conseguimos formar pessoas desse padrão, estas migram para setores tradicionais, e não para setores modernos?
De qualquer forma, a elevação da escolaridade guarda outras vantagens para a sociedade, não somente de cunho econômico, como a formação de uma população mais engajada politicamente, mais consciente de seus direitos e deveres e com menor probabilidade de cometer crimes. No tocante ao primeiro ponto, quando a população é mais politizada, ela tende a fiscalizar de forma mais próxima o governo, exigindo transparência de suas medidas. Democracias se beneficiam dessa característica. Por outro lado, dada a letargia de crescimento da economia brasileira nas últimas décadas, não deveríamos ignorar nossa incapacidade de converter anos de escolaridade em maior produtividade.
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