quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

3 tendências da economia brasileira para o próximo ano

Fim de ano reacende esperanças, mas se não alterarmos a condução da economia, pouco será melhorado

dívida, crescimento, meio ambiente


No último post do ano, pensei em escrever brevemente sobre tendências e desafios da economia brasileira para o próximo ano. O primeiro e mais óbvio continua sendo as contas públicas. Nesse ano, considerando o caráter extraordinário da Covid-19, o ajuste fiscal foi abandonado em prol de gastos defensivos, isto é, despesa para auxiliar a população a lidar com a pandemia. 

Foi um ato pragmático, mas que cabe pelo menos três críticas. A primeira é a de que o governo brasileiro já realiza substanciais gastos de bem estar - por exemplo a saúde pública, pelo sistema SUS. A segunda é que gastamos, em proporção com o PIB, fatia superior aos países da América Latina. Indício de que temos realmente enorme tendência a recorrer ao dinheiro público quando em dificuldades - coloco aqui a pressão de alguns veículos midiáticos, como o jornal Folha de S. Paulo, o qual continua pressionando a opinião nacional para que o governo realize mais gastos emergenciais. Por fim, dado o nosso nível de endividamento, deveríamos ter pensado mais sobre o quanto foi gasto como auxílio emergencial. 

A segunda tendência para 2021 será recolocar a economia nos trilhos de crescimento. Assim como o desafio fiscal, este não será fácil de lidar. Um dos obstáculos é que as reformas estruturais para destravar a economia se choca com interesses de grupos. O país como um todo se beneficiará, enquanto pequenos grupos perderão fatias de renda. O benefício nacional é difuso, e a perda do grupo é concentrada, facilitando medidas para frear o avanço de reformas. 

O último ponto que desejo tocar é sobre o posicionamento do Brasil em relação a temas internacionais. Temos o meio ambiente, a vacinação e o comércio internacional. No caso do primeiro, estamos ficando para trás ao negar o aquecimento global. Quanto à vacinação, a letargia e negação dos perigos da Covid-19 colocaram o país em dificuldades para realizar a imunização da população - veja que a Europa já iniciou as vacinações. Em relação ao comércio internacional, não deveríamos discriminar economias. Deveríamos, por outro lado, transacionar com o máximo possível de países, incluindo a China e a Venezuela - princípio básico do livre comércio, o de abrir as fronteiras domésticas para mercadorias estrangeiras. O Brasil continua sendo uma das economias mais fechadas comercialmente do mundo.

Não adianta falar em desigualdade na vacinação, como fez o jornal O Globo, quando alguns países levaram a Covid-19 a sério, enquanto outros, como o nosso, a trataram como ameaça de baixo perigo. Como discuti em texto anterior, no futuro perceberemos que o foco em vacinações e imunização sairia muito mais barato do que gastos emergenciais para auxiliar a população contra a pandemia. Evito tocar nesse assunto porque há forte conotação política sobre ele, entretanto, como esse blog é de economia, posso afirmar, com poucas dúvidas, de que o nosso atraso em lidar com a Covid-19 irá prejudicar o crescimento econômico de 2021 - e assim essa negligência pode atrapalhar a segunda tendência que apontei, a de recolocar o Brasil nos trilhos do crescimento. Para finalizar, considero injusto imputar toda a culpa sobre o governo federal, quando podemos perceber, por eventos privados, a cumplicidade da população em subestimar a Covid-19





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