quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Inflação mundial aumentará em 2021?

Piora do quadro fiscal pode ativar descontrole dos preços

2021 vacina


Reportagem de capa da nova edição semanal da revista The Economist questionou se teremos aumento da taxa de inflação no próximo ano. Três argumentos foram colocados. O primeiro é o de que os consumidores seguraram gastos no atual ano, dadas as restrições impostas pela pandemia, e podem expandir as compras no próximo ano - os setores de turismo e de entretenimento são candidatos óbvios nesse cenário. O segundo é estrutural. Conforme o avanço do envelhecimento da população mundial, o mercado de trabalho sofrerá com falta de trabalhadores em idade ativa, contribuindo para elevar o salário (menor oferta de mão-de-obra com uma demanda em nível constante). O aumento do salário representaria maior custo para as firmas, que o repassaria, em parte, para os preços. O último argumento é a complacência de políticos. Percebendo pressão inflacionária e enfrentando a opção de cortar gastos, medida sempre impopular, estes hesitariam, comprometendo o equilíbrio dos preços. 

É difícil afirmar se esses prognósticos se concretizarão. Todavia, pode-se concordar com a possibilidade de que eles possam ocorrer. Quarto fator para contribuir com a elevação dos preços seria um possível recuo da globalização. A desintermediação produtiva poderia empurrar os preços para cima, uma vez que a utilização de insumos e fatores de produção teria menores opções (pense na empresa que busca peças em outros países, e que enfrente limitações para fazer isso). 

Preocupação adicional com o cenário de 2021 é com as contas fiscais. A reportagem se concentrou no caso dos países ricos e avançados, dizendo que estes aumentaram o endividamento público, encurtando o prazo das dívidas. Governos procederam dessa forma porque as taxas de juros de curto prazo estavam (e continuam) baixas. 

Na hipótese de aumento dos preços, e reações dos bancos centrais almejando conter a espiral inflacionária - elevando as taxas de juros de curto prazo -, poderia gerar resultado fiscal preocupante, pois as dívidas públicas se tornariam mais custosas (balancetes dos bancos centrais também poderiam apresentar problemas, pois estes, pelo quantitative easing, expandiram ativos de longo prazo em troca de passivos de curto prazo).

No caso brasileiro, atualmente a taxa de inflação aumentou, mas não representa descontrole dos preços. O banco central decidiu manter a taxa de juros de curto prazo (a Selic) no patamar de 2%. Aumentos da Selic, quando ocorrerem, estarão conjugados com nossa incapacidade de lidar com o crescimento da dívida pública. E também como os países europeus, o governo brasileiro encurtou o prazo da dívida, uma vez que os juros de financiamento de dívidas de prazo mais longo aumentaram.

A produção de várias vacinas, a subsequente imunização da população (supondo eficácia da vacina) e o convívio com menor risco com o vírus mostrarão que os desafios não terminaram. O estrago da Covid-19 sobre a economia mundial promete novos desafios em 2021. 




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