quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Governo busca empréstimo internacional

Piora das condições domésticas tornou vantajoso recorrer a fontes externas

fmi governo brasil


A solicitação de empréstimo internacional no valor de US$ 1,2 bilhão  pelo governo deve ser vista como o reconhecimento da deterioração das condições de financiamento por meio de emissão de dívida pública. No texto de ontem discuti justamente essa questão. Como ainda não realizamos as reformas para melhorar o gerenciamento da dívida, e a esfera política, nas últimas semanas, se concentrou apenas sobre a reeleição dos atuais presidentes da Câmara e do Senado, tópico de caráter claramente inconstitucional (confirmado pelo STF), o mercado atribuiu maior risco ao financiamento de nossa dívida. Esse risco se traduziu em maior taxa de juros.

Reportagem do jornal Valor Econômico também elucida essa piora da dívida. O Brasil é um dos poucos países emergentes no qual a taxa de juros de longo prazo (a que financia a dívida pública) permaneceu em nível superior ao patamar visto antes da pandemia. Outra evidência dessa precificação adversa pelo mercado é a nossa taxa de câmbio desvalorizada - embora essa depreciação tenha se reduzido nos últimos dias em virtude de ventos externos mais favoráveis (proximidade da vacina e eleição de Joe Biden), não por méritos domésticos. 

A busca de financiamento internacional tem atrativos. Em geral, a taxa de juros desse tipo de empréstimo é mais baixa do que a enfrentada pelo Tesouro. Agências internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, emprestam dinheiro para a economia se estabilizar, no caso do FMI, ou para realizar investimentos de infraestrutura ou projetos sociais, no tocante ao Banco Mundial. O crédito almejado pelo governo brasileiro se destinaria a financiar ações para mitigar efeitos nocivos da Covid-19. Imagino que no futuro alguns estudos mostrarão que optamos pelo caminho mais caro: o custo de realizar vacinação em massa na população é muito mais baixo do que o custo de auxílios e créditos emergenciais. 

O segundo ponto favorável do crédito internacional, na atual conjuntura, é a de que o real está desvalorizado em relação ao dólar, e tem previsão, caso realizemos reformas estruturais, de se apreciar nos próximos meses. Farei um exercício numérico simplificado. A quantia solicitada pelo governo é de US$ 1,2 bilhão. Em reais, ela equivale a R$ 6 bilhões (usei uma taxa de câmbio de R$/US$ 5). Vamos supor que (sendo otimistas) o governo realizou reformas, alterando a trajetória da dívida pública/PIB de explosiva (sempre crescendo) para estável com tendência declinante. Nesse cenário, digamos que a taxa de câmbio caia para R$/US$ 4. Assim, o governo precisaria de R$ 4,8 bilhões para pagar o financiamento. Repare que a diferença de 6 bilhões (câmbio de 5) para a de 4,8 bilhões (câmbio de 4) daria um "lucro" para o governo de 1,2 bilhões, unicamente devido à diferença cambial. 

Essas duas observações tornam o empréstimo internacional atrativo. Mas não devemos esquecer que o trabalho interno precisa ser feito. De nada adiantará tomar crédito barato caso não consigamos avançar nas reformas estruturais (tributária, emergencial, administrativa e de abertura comercial). 




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