terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Sobre décadas "perdidas"

Tais períodos de estagnação são produzidos por políticas econômicas

atraso pobreza


A relação positiva entre a difusão do sistema de economia de mercado e o padrão de vida da população é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade. Esse processo pode ser visto inclusive no Brasil (gráfico abaixo), embora nos últimos anos tenhamos testemunhado nada do tipo. Como discuti nesse texto, a nossa renda per capita retrocedeu para o valor de 2010. Isso significa que, no tocante ao padrão de vida, não avançamos de forma significativa nos últimos anos.

Para fortalecer minha afirmação inicial, veja o gráfico abaixo, com dados do banco mundial, da renda per capita brasileira em reais com valores deflacionados. No primeiro ano, em 1960, nossa renda era de um pouco mais de R$ 5 mil por habitante. Ao longo das décadas ela foi avançando, quadruplicou de valor na última década. Em 2011, a renda per capita era de R$ 20.500.

banco mundial


Não é um resultado particular ao Brasil. O mundo experimentou o mesmo processo, embora com algumas exceções. Quando conversamos com pessoas de idade avançada, avós, tios, ou mesmo nossos pais sobre como era a vida no século passado, o discurso é o mesmo. As dificuldades eram maiores, tiveram menores conveniências para atender as suas necessidades. Conforme o padrão de vida evoluiu, muitas dessas deficiências e carências foram supridas. 

Todavia, o gráfico anterior esconde períodos de estagnação. No próximo gráfico, apresento a famosa década "perdida". Essa alcunha se dá pelo motivo da renda per capita não ter avançado durante o período. Veja que em 1979 a renda por habitante era de R$ 13.800, e em 1992 ela foi de R$ 13.700. Uma década sem avanços. Marcada por desequilíbrios, com destaque para a crescente inflação e o crônico endividamento do governo.

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Parece que estamos vivendo o mesmo drama. Como nossa renda per capita recuou para o nível de 2010, a atual década também receberá o adjetivo de "perdida". Como a década "perdida" de 1980, temos o problema do endividamento do governo, mas ao contrário dela, não sofremos de hiperinflação. Por outro lado, tivemos um impeachment em 2016. Décadas "perdidas" sempre são carregadas por fatores que derrubam a performance da economia. 

Uma das grandes lições desses períodos de estagnação é a de que políticas econômicas não somente são cruciais em determinar o desempenho dos países, como também têm os seus efeitos interferindo no futuro. Se a política realizada pela administração anterior foi inadequada, ela será uma indigesta herança legada para o próximo governo.

Por isso a necessidade de realizar reformas na economia brasileira. Da forma como as regras do jogo estão estabelecidas, elas não conseguem promover maior crescimento econômico, tampouco gerar uma sociedade menos desigual. Estamos travados. Com problemas se tornando mais graves, como o das contas fiscais.

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