sábado, 26 de setembro de 2020

Resenha: Capitalismo e Liberdade (Milton Friedman)

Friedman descreve os benefícios de construir uma sociedade mais aberta 

friedman


Renomado economista do século passado, Milton Friedman também é um símbolo do liberalismo econômico. Para o público não especializado em economia, que o conheceu por meio de palestras, artigos de jornais e livros publicados, Friedman foi um importante representante do liberalismo político/filosófico. Já para os economistas profissionais, ele é mais reconhecido por suas contribuições para o avanço da Ciência Econômica, como suas importantes contribuições para as teorias do consumo e da moeda - as quais lhe valeram o prêmio Nobel de Economia em 1976.

No livro Capitalismo e Liberdade, Friedman tem como principal objetivo descrever o papel do governo para gerar uma sociedade livre e dinâmica, com inclusão de grupos minoritários e vulneráveis. Tal sociedade promoveria criação de empregos, oportunidades e renda para a sua população. O ponto central é o respeito com a liberdade individual, aquela que impede, por exemplo, que terceiros o prejudiquem, furtando bens, ou limitando a margem de suas ações.

Todavia, o autor alerta que essa liberdade é um ativo inseguro e instável: "Liberdade é planta rara e delicada". Dependendo do arranjo político, o país pode ser tornar vítima de ditadores, ou de pequenos grupos que consigam controlar o legislativo, minando, dessa forma, a liberdade civil. Portanto, para evitar essa armadilha, ou degeneração da democracia com liberdade em autoritarismo, Friedman demarca áreas nas quais o governo deveria participar, se limitando, por outro lado, em cometer abusos intervencionistas. Essas áreas são:

1) proteger sua população de ataques externos e internos;

2) garantir a lei e a ordem, ou seja, o Estado de Direito;

3) garantir o cumprimento de contratos privados;

4) fomentar o surgimento de mercados competitivos (por exemplo, leis evitando a ascensão de monopólios);

5) falhas de mercado;

O último ponto merece alguns comentários. Por falha de mercado, se entende situações nas quais o mercado não consegue entregar o melhor resultado. Um exemplo é a construção de praças ou áreas de recreação (bens públicos). São espaços apreciados pela população, entretanto, sem incentivo privado para suas respectivas construções. Dessa forma, o governo poderia financiá-los. 

Em relação ao ponto 4, Friedman se posiciona contra qualquer forma de concentração de poder: "O poder de fazer o bem também é o poder de fazer o mal". Na ótica da economia, os monopólios e os oligopólios consubstanciam esse tipo de poder em excesso. Tome o caso de um monopolista, sendo a única empresa a ofertar determinado produto. Por isso, todos os consumidores não teriam liberdade para buscar alternativas, tendo de aceitar as condições impostas pelo monopolista. Daí a importância de promover maior competição, pois daria opções para os consumidores e reduziria o poder das grandes empresas em controlar partes do mercado. 

Ainda sobre a concentração de poder, é com base nesses argumentos que Friedman se posiciona de forma desfavorável em relação ao banco central independente. Defende que essa instituição acumula enorme poder de influenciar toda a economia, e que por isso, não é recomendável a sua continuidade: "Qualquer sistema que confira tanta autoridade e tanta discricionariedade a pessoas cujos erros, escusáveis ou não, podem exercer efeitos tão amplos é mau sistema, não só para quem crê na liberdade, simplesmente porque outorga a poucas pessoas tamanho poder, sem controle eficaz pelo corpo político – este é o principal argumento político contra um banco central “independente”. Caso Friedman ainda fosse vivo, ele seria um dos poucos economistas de cunho liberal que seria contra esse tipo de arranjo. Atualmente, a pauta de um banco central independente tem quase unanimidade entre os principais economistas. 

Além de ser um defensor do livre mercado, Friedman também defendia a livre expressão (liberdade de imprensa)"devemos todos, tanto quanto possível, tentar fomentar o desenvolvimento de atitudes e de opiniões, por atos e palavras", a diversidade entre os habitantes: "o grande argumento em favor do mercado é a tolerância pela diversidade; é a capacidade de explorar ampla gama de conhecimentos e habilidades especiais", e a ampliação de oportunidades para todos: "A grande realização do capitalismo não tem sido a acumulação de propriedade, mas, sim, as oportunidades que oferece a homens e mulheres para ampliar, desenvolver e aprimorar suas capacidades". 

Importante assinalar que liberdade individual não seria um convite para abusos e desrespeitos. Intrinsecamente relacionada à liberdade estaria a responsabilidade do indivíduo: "Quem acredita na liberdade em geral também deve acreditar na liberdade dos indivíduos de cometer os próprios erros". 

Em resumo, o livro irá mostrar ao leitor a melhor organização da sociedade e da economia segundo a visão de Milton Friedman. Provavelmente também derrubará alguns mal entendidos que permeiam o pensamento de Friedman, como uma possível indiferença com grupos minoritários e pobres. Nesse caso, basta lembrar que foi Friedman quem idealizou a proposta da renda básica universal para os mais vulneráveis - no Brasil, conhecida como Bolsa-Família/Renda Brasil.


PARA APROFUNDAR:

Outros economistas que pensavam de forma parecida com Friedman: 

1) Hayek: livros aqui e aqui

2) Mises: livros aqui e aqui

3) John Stuart Mill: livro aqui

Há também não economistas, como:

1) Popper: livro aqui

2) Ayn Rand: livro aqui 




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