North utiliza a teoria institucional para explicar a disparidade de riqueza entre as nações
DouglassNorth (1920-2015) foi um dos grandes nomes da Ciência Econômica, em particular
do estudo das instituições. Com conceitos como o path dependence e o lock-in,
ele não somente facilitou a compreensão em entendermos o porquê de algumas
nações não conseguirem fugir da pobreza, como também ampliou o escopo de estudo
dos economistas, passando a incorporarem o ambiente social, político e jurídico
em suas análises – isso é mais verdade ainda na literatura de crescimento
econômico. O prêmio Nobel recebido em 1993 foi um reconhecimento a essas
contribuições.
Na obra,
logo em seu início North irá explicar qual o seu objetivo. A intenção é
descrever como funcionam as instituições. Posteriormente, mostrar como elas se
alteram ao longo do tempo – também como são, em sua maioria, inerentemente
inertes, pouco modificáveis em períodos curto de tempo. Finalmente, relacionar as
alterações institucionais com o desempenho econômico das nações.
Segundo o autor, “Institutions are the
rules of the game in a society”. São os alicerces
nos quais os indivíduos se baseiam para tomarem suas decisões. Instituições
englobam as regras formais e informais. No caso das últimas, os costumes e as
tradições. Durante o livro há vários exemplos de como algumas regras formais
não são respeitadas, não “pegam”, quando estas estão em direção oposta aos
costumes. Logo, as leis informais exercem grande influência sobre a sociedade.
Nisso temos uma das razões para compreender a dificuldade em melhorar
determinadas instituições. As alterações institucionais, quando ocorrem, se
realizam de forma incremental, pouco perceptíveis pela população.
Mas isso
não quer dizer que mudanças abruptas também ocorram. Um exemplo esclarecedor,
também usado por Acemoglu e Robinson no livro Por que as nações fracassam, é a
revolução gloriosa que ocorreu na Inglaterra em 1688-1689. O seu resultado foi
a separação de poderes da coroa com o parlamento, ou seja, limitou-se a
arbitrariedade do rei, consequentemente, pavimentou-se o caminho para a
construção de um aparato jurídico que forneceu maior proteção à propriedade
privada. Se pensarmos na revolução industrial, também deflagrada inicialmente
nesse país, a lei das patentes, concedendo o reconhecimento da propriedade
intelectual para os seus criadores, é filha desse processo e fonte de
incentivos para as inovações que permearam a construção das novas máquinas.
Se
instituições eficientes, que promovam o crescimento, são benéficas para os
países, por que todos não as implementam? A resposta de North é o conflito com
os grupos de interesse. Esses grupos possuem poder político e econômico, fazem
lobbying para aprovar medidas que os beneficiem em detrimento da economia do
país como um todo. A máquina pública, com o protagonismo do legislativo, é
direcionada em construir leis, regulamentos e decretos que promovam interesses
privados ao custo de toda a população. Adicionalmente, esses grupos se tornam
enraizados no governo, cria-se uma dependência entre políticos e grupos de
interesse. Os políticos para conseguirem votos precisam de financiamento, o
qual os grupos de interesse fornecem, e estes últimos são recompensados com
privilégios. Nada de novo para nós brasileiros, que testemunhamos alguns desses
esquemas com a Operação Lava-Jato de 2014.
Esse
quadro cria o path dependence. O país se torna preso (lock-in) em um quadro, ou
melhor dizendo, equilíbrio, no qual o poder político e os grupos de interesse
dominam o cenário público. Compra de votos, financiamento ilegal, privilégios e
outras práticas nocivas se auto reforçam, geram uma cultura de conveniência,
clientelismo e improbidade com a coisa pública. O resultado é um país preso
nessa armadilha. Não há o interesse em alterar o quadro institucional, pois
este beneficia e reproduz a estrutura dos próprios políticos e grupos de interesse
que atuam no mesmo. Contextualizando com o Brasil, veja a dificuldade que é
realizar a abertura comercial. Há uma enorme gama de grupos de interesse
atuando para barrá-la.
Outro
ponto digno de nota são as críticas sobre a teoria neoclássica, a principal
teoria de preços da economia. De acordo com North, ela é baseada em um mercado
desenvolvido e com poucas fricções. Isto é, ela supõe a inexistência de custos
de transações e parte da premissa de que as instituições funcionam
perfeitamente. Mas o mundo real é mais complexo, desmente esse arranjo. No
tocante aos custos de transações, tome o exemplo do indivíduo que deseja
comprar um carro usado. O vendedor possui mais informações do carro do que o
potencial comprador. Outro exemplo são os gerentes de empresas, que podem agir
em sentido contrário aos objetivos dos acionistas. Novamente a questão ocorre devido à
diferenças de informações. O mercado possui falhas. Nesse caso, temos
informação assimétrica.
Ao
desconsiderar esses custos de transações, a teoria neoclássica tem dificuldades
em explicar padrões divergentes, como é o caso das antigas colônias inglesas,
Estados Unidos e Canadá, e das colônias ibéricas. O primeiro grupo se tornou
rico e próspero, enquanto a América Latina apresenta problemas em se desenvolver.
Nesse caso, ao incorporar o arcabouço institucional, a explicação se aproxima
mais da realidade. North nota que muitos países latinos adotaram constituições
muito parecidas com as dos países anglo-saxônicos, todavia, o resultado foi
muito diferente. A história da América Latina é permeada por governos
autoritários. Temos de olhar para as instituições caso desejarmos obter melhor
compreensão dessa disparidade.
O
principal objetivo de North durante o livro é mostrar como a cooperação humana
é difícil de ser construída. Nos deparamos com um mundo extremamente complexo,
com muitas incertezas. A forma que nossa sociedade descobriu para se adaptar a
esse ambiente foi pelas instituições, as quais reduzem as incertezas e fornecem
caminhos para serem seguidos. São ferramentas, instrumentos para os indivíduos
utilizarem para tomarem suas decisões. Todavia, nada garante que serão
eficientes, no sentido de fornecerem incentivos para aumentar a produtividade.
Podem, por outro lado, serem capturadas por grupos de interesse, e convertidas
para atividades pouco produtivas, que desviam recursos para o bolso privado, o
famoso rent-seeking. As instituições são estruturas estáveis. Daí a dificuldade
de alguns países fugirem da pobreza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário