segunda-feira, 15 de junho de 2020

A escassez é a regra da economia

Nações que fazem melhor uso dos recursos escassos se tornam mais ricas ao longo do tempo


escassez


Estudantes de Ciência Econômica aprendem desde cedo a definição do objeto de estudo da economia, o qual é caracterizado pelo estudo da alocação dos recursos escassos da sociedade. Meio de coordenar as ações dos indivíduos para atingir determinados fins também é uma definição comum e alternativa. A economia, portanto, é uma ferramenta para políticas públicas, para extrair maiores benefícios dados os recursos existentes

O filósofo Luiz Felipe Pondé estava correto quando disse que poucas pessoas têm simpatia pelo estudo econômico, pois este mostra que há limites para o que desejamos fazer. Enquanto somos seres desejosos de melhorar nossa situação material, fazer mais viagens, comprar melhores produtos, ter maior comporto, todos sendo objetivos legítimos, a economia se impõe para mostrar que não podemos fazer tudo o que imaginávamos. Mostra que há restrições na vida real, não importando o que os comerciais e coaches possam dizer para nós.

No período de 1956 a 1960, o Brasil foi governado por um presidente que ignorava limites fiscais, prometeu fazer a economia crescer o equivalente a 50 anos em apenas 5 anos. Construiu uma dispendiosa capital no meio do país - sem ter recursos específicos para tal empreitada. Quando confrontado com restrições financeiras, preferiu ignorá-las. 

Após o término de seu governo, Juscelino Kubitschek entregou, como prometido, uma economia mais industrializada e rica, mas junto a esse pacote também vieram um enorme endividamento público e um processo inflacionário descontrolado. Legou ao seu sucessor um ambiente macroeconômico instável. Os seus sucessores Jânio Quadros e João Gourlart não conseguiram estabilizar a economia, e em 1964 os militares assumiram o poder.

O grande economista Eugênio Gudin não deixou passar despercebido o descaso com a limitação de recursos que Kubitschek apresentou. Gudin destacou várias vezes no seu livro Para um Brasil melhor (terminando a sua leitura irei fazer uma resenha do livro e postá-la) as consequências deletérias do desajuste das contas públicas promovido por Juscelino. Se Dilma Rousseff tivesse lido Gudin, ou prestasse maior atenção ao desequilíbrio fiscal e suas consequências, não teria sido tão leniente à deterioração da situação fiscal do Brasil durante o seu governo, o que a levou a sofrer o impeachment em 2016. 

Segundo Gudin, um dos principais problemas do Brasil, que o arrasta para a pobreza, atrasa nosso desenvolvimento, é o desperdício de recursos. Utilizamos muito mal os escassos recursos que temos. Um exemplo: enquanto construíamos uma capital, 76 de cada 100 crianças e adolescentes brasileiros estavam fora da escola. Sabemos das consequências que esse tipo de dado causa no longo prazo. Juscelino Kubitschek se tornou famoso e colocou o seu nome na história ao erguer uma capital (ganhou até série transmitida na Globo exaltando o seu governo, e a construção da capital, em particular). Conduta típica de imperadores quando constroem grandes monumentos. Quem prestasse atenção ao custo de oportunidade não louvaria JK, e Gudin era um desses.

No final das contas, o desempenho econômico depende da utilização dos recursos internos e externos, em como converter essa soma em maior produtividade. Ainda não superamos alguns mitos, como o de que o gasto fiscal é a solução para nossos problemas econômicos ou o de que basta vontade política para fazer o país crescer, ignorando o endividamento e a perda de equilíbrio macroeconômico que essa conduta possa causar - ainda temos o DNA de Kubitschek entravado. O desperdício e o mal uso do recurso público são apenas consequências de um equivocado mito.

PS: o gráfico abaixo retrata o PIB per capita real da Coreia do Sul e do Brasil. Veja que éramos mais ricos do que os coreanos, mas somos ultrapassados na década de 1990. A Coreia hoje é um país rico e desenvolvido. Ficamos estagnados no meio do caminho.

banco mundial



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