domingo, 7 de junho de 2020

Zona do Euro precisa de união fiscal para permitir a sobrevivência do euro

Dificuldade de união fiscal é convencer países poupadores a financiarem os que gastaram mais do que o permitido

união fiscal


No ano de 2007 a economia dos Estados Unidos enfrentou forte crise financeira, com o drástico episódio da quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008. Foi o momento mais grave da crise, paralisando o mercado financeiro internacional. Como reação para amenizar os estragos da crise, governos forneceram pacotes fiscais para socorrer instituições financeiras. O endividamento dos países da Europa passou a se tornar preocupante. 

A crise da dívida do Euro se arrasta, em menor escala de risco, nos dias atuais, com a atenção voltada para a Grécia, detentora da segunda maior dívida publica/PIB do mundo, perdendo apenas para o Japão (gráfico abaixo).  

dívida pública

Na verdade, os países epicentros da crise eram Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, formando a pejorativa sigla PIIGS (em inglês, porcos é escrito como pigs, o s é da Espanha, que em inglês se escreve Spain). Por que esses países? Um dos motivos é que nos anos de prosperidade eles não se preocuparam em ajustar o ambiente econômico interno, permitindo que os salários crescessem mais do que a produtividade (gráfico abaixo). Esse gráfico foi retirado do excelente livro A economia do bem comum de Jean Tirole, prêmio Nobel em economia em 2014 (resenha do livro aqui). O autor observa que embora a Grécia não esteja no gráfico, o seu comportamento é similar ao de Portugal, ou seja, cresceu-se um perigoso hiato entre salário e produtividade, culminando em uma economia com baixa competitividade internacional.


Em circunstâncias normais, países que começam a apresentar sintomas de crise tomam algumas medidas, como a redução da taxa de juros promovida por seus bancos centrais (política monetária) e a desvalorização do câmbio (política cambial). Acontece que a zona do Euro, por definição, não possui, a nível individual, esse tipo de ferramenta. Quando o país se torna membro do Euro, ele abdica de suas políticas monetária e cambial, pois deixa de ter banco central - esse é um dos motivos para a relutância do Reino Unido em fazer parte do euro. A zona do Euro possui apenas um banco central, o Banco Central Europeu (BCE) e, portanto, também apenas uma moeda. E este banco sofre a influência de todos os 19 membros do euro, principalmente da maior economia do bloco, a Alemanha.

Esse fator foi relevante para compreendermos a crise do Euro, uma vez que os países que permitiram o crescimento superior dos salários em relação à produtividade se viram desarmados, contando apenas com a realização de reformas estruturais para reduzir o custo de produção. Mas essas reformas são dolorosas para a população, e demandam tempo para serem realizadas e para apresentarem os seus efeitos. E assim a crise se prolongou.

A política fiscal, por meio do gasto público, estava limitada devido ao crescente endividamento público (primeiro gráfico do texto). Então a discussão evoluiu para a união fiscal: emissão de títulos públicos lastreados por todos os países e/ou pacotes de socorro - ambas as opções sendo discutidas atualmente (escrevi sobre aqui).

O projeto do Euro tem a vantagem de dinamizar o comércio internacional e reduzir os custos de empréstimos, mas também carrega desvantagens, como a perda das políticas monetária e cambial. No caso de algum país possuir vantagem competitiva, como a Alemanha (volte no primeiro gráfico), torna-se difícil rivalizar com os seus produtos. A tendência é o crescimento de déficits comerciais. Isso também ocorreu no Euro. Todavia, o aprofundamento de discussões relativas às uniões fiscal e bancária é um passo para solucionar essa dificuldade. 










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