terça-feira, 16 de junho de 2020

Resenha: Para um Brasil Melhor (Eugênio Gudin)

Livro é recomendado para aqueles que querem entender melhor o cenário econômico e político dos anos 1960

eugenio economista




Eugênio Gudin é considerado por muitos como o patrono do curso de Ciências Econômicas do Brasil - ajudou na elaboração do projeto de lei que institucionalizou o curso de economia no país. Participou da famosa Conferência de Bretton Woods em 1944, a qual deu origem ao FMI e ao Banco Mundial (escrevi um pouco sobre isso aqui). Foi ministro da fazendo durante os anos 1954-1955, responsável pela famosa Instrução de número 113 da Sumoc.  

O livro engloba os escritos de Gudin durante a década de 1960. Período rico na história brasileira em termos de experimentação de políticas econômicas e de sistema político. Em 1961, o país sofria devido ao elevado endividamento e a inflação descontrolada promovidos pelo Plano de metas do presidente Juscelino Kubtischek (1956-1960) (critiquei esse desequilíbrio aqui). Testemunhou o regime militar e as reformas econômicas para modernizar a economia. 

No prefácio, Gudin aponta o que considera o fator essencial para promover o desenvolvimento do Brasil: o elemento humano. Melhorar o nível técnico e educacional de sua população, os quais permitiriam melhor uso das máquinas e equipamentos e aumentaria a produtividade. No campo político, uma população mais bem educada saberia escolher os seus representantes políticos. Seria menos inclinada a discursos populistas e a demagogos.

Sobre esse último ponto, o autor é um forte crítico da forma como a democracia funcionava. De acordo com Gudin, idealizou-se o sistema de países avançados e com longa história de evolução política, como a Inglaterra, e tentou-se aplicar o mesmo receituário em um território com elevada pobreza, desigualdade social e, principalmente, carência educacional. O resultado era instabilidade política e políticas econômicas equivocadas. 

Gudin participou ativamente do debate econômico do período. Defensor do setor privado, do investimento estrangeiro e da competição doméstica (Instrução 113 da Sumoc entra nesse contexto, a qual eliminou restrições para a entrada do investimento estrangeiro), se posicionou contra o agigantamento de estatais ineficientes, como as empresas do setor ferroviário e portuário. Tais entidades, por serem deficitárias, oneravam o Tesouro, fazendo com que o gasto público se expandisse e elevasse a quantidade de moeda na economia. Resultado: crescente inflação. Gudin não viveu para testemunhar os fracassados planos de estabilização da moeda que ocorreriam na década de 1980, iniciando com o Plano Cruzado, mas teria observado que eles partiam de um pressuposto falho, ao ignorar o crescente gasto público e a subsequente expansão monetária. O único plano bem sucedido, o Plano Real, não ignorou esses alertas. 

Argumentou sobre a importância do lucro em uma economia de mercado, o qual promoveria o aumento do capital investido, e, consequentemente, se tornaria "a mola principal do desenvolvimento econômico". Em um período marcado por controles de preços, congelamentos e distorções sobre os preços, Gudin era uma feliz exceção nesse cenário. 

Um resumo de seus diversos textos é a crítica contra o desperdício de recursos públicos. A alocação ineficaz dos mesmos. A construção de Brasília e o gerenciamento da Petrobras são alguns dos principais alvos. Gudin lembra mais de uma vez que durante a construção de Brasília o país apresentava apenas 24% de suas crianças e adolescentes matriculados em escolas. Optou-se pelo suntuoso em detrimento do longo prazo.

Há outros tópicos debatidos, como a influência da igreja sobre o debate econômico, críticas sobre a cultura de "direitos adquiridos", relações internacionais, entre outros. Gudin foi um homem erudito. Capaz de discutir diferentes tópicos sem perder profundidade. Foi um dos grandes talentos que nosso país possuiu. 



















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