quarta-feira, 10 de junho de 2020

Resenha: Argumentando com Zumbis (Paul Krugman)

Livro levanta questões atuais e fornece argumentos para o leitor se posicionar sobre os principais temas da atualidade econômica e política

economista


Paul Krugman dispensa apresentações; premiado com o Nobel de economia em 2008, colunista do jornal norte-americano The New York Times (jornal Folha de S. Paulo publica suas colunas traduzidas para o português), dono de um dos blogs mais famosos no mundo da economia e escritor de vários livros. Talvez Krugman seja o economista mais famoso em atividade.

Nesse livro, Krugman debate problemas relativos aos Estados Unidos (EUA), como a reforma da seguridade social, o alargamento do sistema de saúde e a regulação financeira dos mercados. Também engloba questões de âmbito internacional, como o aquecimento global e as criptomoedas. O acervo é amplo.

O debate sobre o papel do governo em meio à crise financeira que o país passou no período 2007-2008 recebe grande ênfase. Como aqui no Brasil, alguns defendem a expansão do gasto público para sustentar a recuperação da economia, enquanto outros optam pelo aperto fiscal para recuperar a credibilidade do país. Krugman se posiciona favorável ao gasto público emergencial, de curto prazo, aquele que é reduzido após a superação da crise. Argumenta que o investimento privado não sofreria uma queda com o influxo de dinheiro público, pois os empresários estão ressabiados, com grande incerteza quanto ao futuro, logo, não fariam inversões de capital, gerando margem para o gasto do governo.

A dívida pública se elevaria, mas seria administrável quando a economia recuperasse as engrenagens e voltasse a crescer. O autor aponta que o financiamento da dívida é baixo, com juros de longo prazo não superiores à 3%. Considerando a inflação por volta de 2% ao ano, vemos que a razão dívida/PIB não sofreria forte impulso para cima. 

Krugman, da mesma forma que Joseph Stiglitz (resenha aqui), Jean Tirole (resenha aqui), Daron Acemoglu (resenha aqui), e companhia, defende a entrada do governo nas situações nas quais o mercado não fornece o melhor resultado: "there are some things the government does better than the private sector". O exemplo usado é o do setor da saúde, com tendência para excluir pacientes em potencial devido ao maior risco que apresentam de desenvolver doenças, ao mesmo tempo com baixa capacidade de pagamento (o livro de Ubel é útil para aprofundar esse tipo de discussão, veja aqui). O caso da seguridade social entra nesse ramo, com a complementação de renda do governo para subsidiar a aposentadoria da parte mais vulnerável de sua população. 

Em resumo, todos os tópicos discutidos são esses aqui:
i) seguridade social;
ii) sistema de saúde;
iii) regulação financeira;
iv) gasto público durante crises;
v) justiça social e crescimento econômico (argumenta que os dois objetivos são compatíveis e não excludentes);
vi) Zona do Euro e a sua manutenção;
vii) Guerra comercial dos EUA com a China;
viii) Desigualdade de renda;
ix) Mudança climática;
x) Fake news;

Como se vê, Krugman é antenado e oferece ótimos argumentos para o leitor se situar nessas questões. Sempre com linguagem simplificada e termos acessíveis para os leigos em economia.

Sem dúvidas o objetivo do livro é atingido, evidencia a falácia de alguns argumentos que são mantidos para determinado grupo de interesse obter o que deseja. São esses "zumbis" que Krugman se propõe a combater durante o livro, eliminar as ideias "zumbis", que por motivos estranhos ainda se mantêm vivas no debate político e econômico. 









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