sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Governo empenhou 8,4% do PIB em gastos contra a Covid, enquanto o valor para economias desenvolvidas foi de 7,1%

Quando se gasta o que não se possui, as consequências não costumam ser boas 

covid gasto


Em documento liberado pelo Ministério da Economia, foi informado que o país empenhou R$ 605 bilhões para amenizar o impacto econômico desfavorável da Covid-19 sobre a economia. Dessa soma, a maior parte foi destinada para o auxílio emergencial (R$ 321 bilhões), enquanto o restante se destinou ao apoio do crédito (como suspensão de pagamentos de financiamentos tomados junto ao BNDES) e repasses aos estados e municípios. 

Em relação ao PIB, esse valor total equivale a 8,4% do PIB, um pouco acima dos países desenvolvidos (7,1%) e muito acima das economias emergentes (4,3%) - quase o dobro dessas. 

Nada foi mencionado sobre os repasses dos auxílios emergenciais realizados de forma ilícita, isto é, brasileiros fora do grupo alvo do programa que sacaram a quantia. Eu escrevi em junho que 620 mil brasileiros sacaram o auxílio de forma ilegal, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). Desses brasileiros, na época, apenas 48 mil tinham devolvido.

Hoje o mesmo TCU afirmou que apenas 0,8% dos repasses ilegais foram devolvidos. Colocando em números absolutos, as perdas por causa dessa ilegalidade foram de R$ 42 bilhões, tendo sido devolvidos apenas R$ 340 milhões. 

Logo, dos R$ 321 bilhões alardeados pelo documento do Ministério da Economia, aproximadamente 13% do total foi mal direcionado, desviando-se do público pobre e necessitado para brasileiros em melhor situação. 

Três observações. A primeira é a de que é estranho um país que já estava endividado antes mesmo da crise da Covid ter empenhado quantia de gasto superior às economias ricas e desenvolvidas (estas gastaram em média 7,1% do PIB, enquanto nós comprometemos 8,4% do PIB). O segundo ponto é que esse documento do governo se vangloria de ter realizado tamanho gasto, sem se atentar, em momento algum, para a eficiência e/ou retorno desse gasto. Por último, como citei o TCU alertando para ilegalidades desse gasto, isso apenas reforça outro texto que escrevi, no qual o FMI dizia que países emergentes (nós) quando realizam investimentos públicos em infraestrutura, apresentam elevado desperdício de dinheiro. Os R$ 42 bilhões de auxílio emergencial sacados indevidamente são um atestado para confirmar esse ponto.

É preocupante sugerir que o gasto em si é algo benéfico, pois estamos na atual crise fiscal justamente por ter seguido esse pensamento (equivocado) à risca nos anos anteriores. Também não deveria ser ignorado os atos ilícitos cometidos por alguns brasileiros. De qualquer forma, a realidade se imporá mais cedo ou mais tarde e o ajuste das contas públicas deverá ser retomado. 










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