terça-feira, 1 de setembro de 2020

O caminho é elevar a produtividade

Maior produtividade se relaciona com maior prosperidade

jovens


Desde a eclosão da pandemia e a percepção de seus danos sobre diversas áreas da sociedade, avolumaram-se estudos e dados retratando os impactos do vírus sobre vários segmentos sociais. Um deles, pouco enfatizado previamente à Covid-19, é o acesso à internet por estudantes. O gráfico abaixo mostra a proporção de estudantes com acesso à internet.

acesso internet

Países ricos e desenvolvidos se apresentam melhor do que os emergentes. Dinamarca, Reino Unido e França encabeçam a lista, enquanto México e Colômbia ficam para trás. O escalão dos países ricos tem internet disponível para mais de 95% dos jovens. Já os dois países em desenvolvimento da amostra não atingem a marca de 70%. 

Eu já tinha feito uma discussão desse tipo, com a diferença de que o público alvo era toda a população, não somente os estudantes. O resultado foi similar ao visto no gráfico acima. Reproduzo abaixo o mapa que utilizei. Nele é retratado o acesso à internet a cada 100 pessoas. No geral, países ricos se sobressaem, têm taxa de internet entre 80 e 100%. Por outro lado, tomando o Brasil como exemplo, a nossa taxa é de 60 a 80%. Há milhões de brasileiros sem cobertura de internet. Nenhuma surpresa em uma país tão desigual.
acesso a internet

A tentação para elaborar políticas para mitigar esse dado pode ser forte. Uma análise superficial diria que bastaria realizar investimentos públicos ou subsidiar os estudantes desprovidos de acesso para reverter o quadro. Em resumo, a expansão do gasto seria o caminho. Se fosse tão fácil, não haveria tantos países com esse mesmo problema.

Na prática, porém, essa disparidade de acesso retrata uma das consequências - tomando novamente o Brasil como exemplo - do patamar de desenvolvimento econômico de nossa economia. Como somos um país de renda média, não conseguimos prover ampla gama de bens e serviços para a população, como saneamento básico, educação primária e secundária, serviços de saúde, maior consumo de mercadorias e também amplo acesso à internet.

Há alternativas, como fornecer incentivos para empresas estrangeiras investirem capital no nosso território, preenchendo áreas desprovidas dos serviços elencados anteriormente. Veja que quando defendo a internacionalização da economia, não é por ideologia, mas praticidade e restrições. Fazendo jus ao patamar de economia em desenvolvimento, nosso país tem baixa taxa de poupança, isto é, insuficiente nível de fundos públicos para prover os serviços de que necessitamos. Dessa forma, o capital internacional complementa a malha produtiva. Não faz sentido um país tão endividado como o nosso, sofrendo com uma dívida pública crescente, negar a entrada de investidores externos que assumiriam todo o risco do negócio. Caso sejam bem sucedidos, consumidores (nós) ganharão por terem um serviço indisponível anteriormente e esses investidores abocanharão lucros. Em caso de insucesso, todos perdem. Pior ainda é negar a entrada dessas empresas, pois nesse caminho continuaríamos sem o serviço prestado. 

Hoje foi anunciado que possivelmente o aumento do salário mínimo ficará aquém do previsto. Reflexo da situação geral, de recursos públicos magros. Nossa economia se tornou mais pobre com a pandemia. Estamos produzindo menos. Logo, elevar o padrão de vida de parte da população se torna muito difícil, talvez - em um cenário no qual a crise fiscal se desdobre em desequilíbrio macroeconômico grave - inviável. Pensar que eliminar o teto do gasto público liberaria recursos para recolocar a economia no crescimento sustentável é se iludir com mágicas contábeis.

Por mais que pareça economês, o caminho para voltarmos a crescer, a permitir elevações na renda da população enquanto exibindo equilíbrio das contas públicas, se passa pelo aumento da produtividade. Países são ricos e desenvolvidos, com amplo acesso à internet para os seus jovens por causa da produtividade. Uma crescente produtividade permite a expansão da produção, o aumento das exportações, a criação de novos mercados e novas possibilidades para explorar diferentes segmentos da economia em busca de maiores rendimentos. Esse é o caminho, por isso a necessidade de reformas estruturais para viabilizar esse tipo de dinâmica.
























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