sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Banco Mundial projeta aumento do número de pessoas extremamente pobres

Aumento da pobreza é desafio adicional pós-pandemia

pobreza


O Banco Mundial fez uma estimativa do aumento do número de pessoas no grau de extrema pobreza (aqueles que vivem com no máximo 1,9 dólar por dia ou, equivalentemente, 317 reais mensais, considerando a taxa de câmbio real/dólar em 5,56) em virtude da Covid-19 (gráfico abaixo). Sem o coronavírus, o planeta caminhava para uma queda das pessoas nessa situação. A previsão era de que 550 milhões estariam nessa situação em 2021 (linha azul clara). 


extrema pobreza


Mas como temos a Covid-19, não teremos uma queda do estoque de extremamente pobres, mas uma elevação. Dependendo de uma segunda onda de contaminação do vírus e/ou a demora na imunização da população, poderemos ter um aumento de 5% a 8% no número de extremamente pobres (linhas vermelha e marrom). A projeção indica que esse número estaria compreendido entre 650 e 750 milhões de pessoas extremamente vulneráveis em todo o mundo.

A revista The Economist discutiu essa situação e afirmou que alguns países estão lidando de forma insatisfatória para conter o avanço da pobreza. Na África do Sul, por exemplo, há indícios de que 658 contratos avaliados em um total de 300 milhões de dólares para fornecer kits contra a Covid foram fraudados. Na Nigéria, o seu ministro da saúde comprou máscaras pelo incrível valor de 53 dólares cada - valor próximo de 300 reais por máscara (aqui no Brasil elas podem ser compradas por 5 reais). 

A reportagem argumentou que uma das melhores formas de ajudar os pobres é transferir dinheiro diretamente para os seus bolsos, pois nesse caso se reduz a burocracia e a possibilidade de desvios e corrupção. Nesse caso, o Brasil recebeu elogios pela reportagem, uma vez que fizemos exatamente esse tipo de programa. O programa brasileiro aliviou a vida de 66 milhões de pessoas. 

Para ser um pouco estraga prazeres, a revista esqueceu de mencionar que desses 66 milhões de brasileiros, 620 mil sacaram o dinheiro de forma ilegal. Parte da ilegalidade decorre do fato de que famílias abastadas, das classes de renda A e B, ignoraram as regras do programa e retiraram o dinheiro mesmo assim. E não deveria ser esquecido o importante estudo do FMI mostrando que países em desenvolvimento, grupo de África do Sul, Nigéria e Brasil, tem uma taxa média de desperdício de dinheiro público em projetos de investimento de 34%. É verdade que os programas para combater o vírus não se caracterizam como investimento público, mas não é nenhum absurdo assumir que a corrupção que existe em investimento público também coabite programas para ajudar os pobres. Os casos de ilegalidades desses 3 países que citei apontam nessa direção.

De qualquer maneira, a Covid nos legará esse infeliz cenário, de aumento das pessoas vulneráveis. Além da reconstrução das economias, do saneamento das contas públicas, os países terão de lidar com o aumento da extrema pobreza.


PARA APROFUNDAR:

O economista Jeffrey Sachs escreveu famoso livro que mostra as melhores práticas para eliminar a extrema pobreza aqui.







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