Gritaria (ou ofensas) para forçar o mercado a baixar o preço é retrato de baixo conhecimento dos mecanismos de ajustamento dos preços
Nesse mês, o preço do arroz subiu rapidamente, desencadeando reclamações por parte dos consumidores. Declarações infelizes, atribuindo a responsabilidade do aumento aos mercados de varejo, e acusações morais, como de ganância dos empresários, marcaram o noticiário. Isso mostra que poucas pessoas conhecem as leis da oferta e da demanda.
Até o mês de setembro, o arroz acumula aumento de preço de 19%. Outros alimentos também tiveram fortes aumentos, como a manga (61%), a cebola (50%) e a abobrinha (46,8%). Embora significativos, esses aumentos estão longe do aumento de 80% do preço do tomate em 2013, outro evento que suscitou muito barulho no noticiário.
São 4 os fatores responsáveis por essas elevações dos preços:
1) aumento das exportações (países estrangeiros estão comprando mais do Brasil);
2) dólar caro (isso torna a venda de nossos produtos atrativa para os estrangeiros, pois eles, com poucos dólares, obtêm muitos reais);
3) há relatos de que produtores estocaram parte dos produtos (como o arroz) esperando uma alta dos preços, e somente agora estão vendendo-os;
4) auxílio emergencial (ajudou a manter a demanda interna dos brasileiros, mesmo em um momento de queda da renda por causa da crise da Covid);
Observe, todavia, que esses aumentos dos preços são eventos pontuais, pois a inflação nacional, média de todos os preços, está baixa (gráfico abaixo). A inflação de 12 meses está em 2,4%, enquanto a inflação desde janeiro até setembro em meros 0,7%. Os preços nacionais não está descontrolados.
Argumento mais sutil diria que nossa economia é relativamente fechada ao comércio internacional e tributa onerosamente os produtores, criando um ambiente de preços elevados (comparados com o restante do mundo). Uma evidência disso é a zeragem dos tributos sobre o arroz importado e o acordo de comprar arroz dos EUA e da Tailândia. Medidas que vão na direção correta para solucionar o aumento do preço do arroz, mas que também realçam alguns dos problemas de nosso país.
Para finalizar, caso o governo fizesse absolutamente nada para reverter o preço do arroz, com o tempo ele tenderia a se reduzir. Uma baixa demanda faria com que os preços retornassem para o seu valor original. Seria a velha lei da oferta e da demanda em funcionamento. Lembra do preço elevadíssimo do tomate em 2013? Bem, hoje quase ninguém se lembra desse episódio.
PARA APROFUNDAR:
Tenho um texto sobre o preço do tomate aqui
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