sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Somos todos Chico Rodrigues?

País dos espertos e dos malandros se reflete nos políticos que possui

corrupto chico


A investigação da Polícia Federal de desvios de verbas públicas para combater a Covid-19 em Roraima resultou no flagrante do senador Chico Rodrigues escondendo dinheiro dentro de sua cueca, no valor estimado de R$ 33.150. As redes sociais não demoraram em criar várias postagens sobre o evento. 

Além da quantia escondida na cueca, a PF suspeita que foram desviados R$ 20 milhões pelo esquema. Neste ano, o estado de Roraima recebeu R$ 55 milhões para criar medidas para amenizar a Covid-19. Se a PF estiver correta em sua suspeita, o desvio de verba pública equivaleria a 36% do total destinado para o estado. Isso representa enorme ineficiência no uso do dinheiro público. 

Mas não causa surpresa. Recentemente o FMI liberou estudo mostrando que países emergentes (grupo no qual o Brasil se enquadra) apresentam 34% de desperdício de dinheiro público em projetos de investimento em infraestrutura. A cifra que calculei, de 36%, está próxima do valor estimado pelo FMI. Embora o FMI tenha considerado investimentos públicos em infraestrutura, não é uma hipótese absurda extrapolar essa conclusão e inferir que a utilização de dinheiro público em programas de saúde também apresente nível de desperdício parecido.

Nas redes sociais, discursos moralistas condenaram o senador Chico Rodrigues. "A culpa do Brasil são os políticos corruptos" é um slogan que reaparece em efusão nessas circunstâncias. Mas será que a corrupção ocorre apenas nos políticos? Ela não estaria generalizada no povo? Ela não seria um fenômeno que se origina primariamente no dia-a-dia do brasileiro comum, e sobe para os políticos? 

Pessoas que receberam o auxílio emergencial de R$ 600 ilegalmente, fraudes no recebimento do Bolsa-Família, saques do seguro-desemprego e subsequente recebimento do FGTS por acordo com o empregador, estacionar em lugar proibido, compras de carros usando a isenção do Portador com Deficiência (PCD), os quais ficam isentos de IPVA, IPI, ICMS, sendo o comprador pessoa não deficiente, furar filas, não alertar o (a) garçom (garçonete) quando este (a) se esquece de anotar o pedido na comanda, entre outras tantas oportunidades de ser "esperto". Isso não seria comportamento próximo ao de Chico Rodrigues? Nos exemplos dados acima, cada indivíduo não foi corrupto dentro do espaço possível? E se a possibilidade de comportamento corrupto abrangesse o mesmo que Chico Rodrigues, estes mesmos indivíduos não replicariam o comportamento contrário à lei?

Talvez o problema da corrupção do país não seja pontual, e sim algo generalizado, institucionalizado. Em diversas oportunidades, o indivíduo que realiza esses atos é chamado de "esperto", ou "malandro", no caso do futebol, esporte mais popular do país, ao conseguir ludibriar a arbitragem, enganar o juiz e obter alguma vantagem para o seu time. É significativo o uso de adjetivos considerados lisonjeiros para caracterizar condutas ilegais. 

PARA APROFUNDAR

Texto usando dados do FMI sobre desperdício de dinheiro público está aqui. Nele eu cito a Arena da Amazônia como exemplo de desperdício. 




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