Confundir efeito com causa nos faz perder a essência da questão
O noticiário e o debate econômico costumam deslizar em equívocos quando confunde-se causa com efeito. Das consequências, passa-se a atribuir culpa para quem é inocente, e a construir soluções baseadas nos efeitos, ignorando as causas. O resultado são políticas que fracassam.
Como exemplo dessa questão, começarei pelo aumento dos preços, a inflação. Quando a população percebe o aumento de preço constante de algum produto, ou de vários produtos, iniciam-se protestos e reclamações seguidos de culpados. Na maior parte das vezes, o empresário é responsabilizado, sendo chamado de oportunista ou ganancioso. Passa batido o porquê do empresário ter esperado determinado período para mostrar sua ganância - se ele pudesse ter elevado os preços no período t, por que não assim procedeu, esperando apenas o período t+1?
No caso dos preços, temos de saber separar efeito de causa. O aumento dos preços que visualizamos e sentimos no bolso é o efeito. Em geral, a causa é o aumento do gasto público, empurrando a demanda agregada da economia, gerando a expansão da moeda e a subsequente pressão sobre os preços. Veja que a causa é o aumento do gasto e expansão da moeda, e o efeito é o aumento dos preços. Ao passar batido a causa, a população enxerga apenas o aumento dos preços, culpando e dizendo impropérios aos empresários.
Outro exemplo é a reclamação de que o principal culpado por nossa situação fiscal é o pagamento de juros da dívida pública. Quando discorda-se dessa proposição, a pessoa é taxada de protetora do grande capital - estaria a serviço dos bancos. Mas isso ocorre porque observa-se apenas o efeito. A causa de pagarmos elevada quantidade de juros se deve aos elevados gastos públicos, que superam as receitas tributárias, causando o aumento do endividamento público, ou seja, emite-se mais títulos públicos para fechar a conta. Mais títulos públicos acompanham maior pagamento de juros. Pagamento de juros, portanto, é o efeito de um descompasso entre receita e despesa.
Além de distorcer a análise de fenômenos econômicos e deseducar a população, a confusão entre efeito e causa tende a prejudicar a compreensão do papel de agentes na economia. Tomando o caso da inflação novamente, os empresários são vistos como gananciosos, quando na verdade estes são os agentes, por excelência, criadores de riqueza e emprego em economias de mercado. Caso o Brasil possuísse maior número de empresas e, portanto, maior número de empresários, teríamos menores preços, maior diversidade de produtos, mercado de trabalho mais dinâmico e padrão de vida mais próximo ao dos países ricos e desenvolvidos. Em uma palavra, nosso estoque de capital físico (máquinas, equipamentos, tecnologia usada) seria maior em proporção com a população.
Uma das principais razões para a existência da Ciência é a de desvendar fenômenos, conseguir separar causa de efeito. A Ciência Econômica tem essa função, sendo um de seus objetivos centrais. Para realizar políticas públicas, é fundamental compreender o impacto de determinadas medidas. Deve-se saber distinguir, ou se esforçar para se aproximar de uma melhor definição de correlação e causalidade. Se evitarmos essa questão, cairemos em erros simples e iremos defender pautas errôneas.
PARA APROFUNDAR
1) Tenho um texto sobre gasto público e tributação aqui.
2) Discuto aqui o arranjo institucional que temos para evitar que os preços se descontrolem. Veja aqui.
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