quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Convivência em sociedade exige constante ameaça de punição para atos ilícitos

Ainda que não tenhamos total noção da estrutura que nos cerca, seguimos incentivos ao realizar nossas ações

estado ameaça saques governo


O roubo das cargas de um caminhão por pessoas que passavam no caminho me lembrou o trágico episódio da greve da polícia militar no estado do Espírito Santo em 2017. Os capixabas sofreram com vários dias de insegurança, permeados por assaltos, saques e violência. Parecia cena de filme ou de videogame. Nunca esqueci da cena de um rapaz que dirigia o seu carro e foi abordado por um assaltante. Este apenas mostrou a arma e exigiu a saída do motorista. Foi embora com a "recente aquisição", enquanto o rapaz que o dirigia ficou atônito. Provavelmente o carro não estava segurado. 

Esses episódios evidenciam a ingenuidade de teorias que pregam uma sociedade sem o poder de polícia. Todos os habitantes viveriam em harmonia. Crimes e outros atos ilícitos não ocorreriam. É uma espécie de bondade coletiva. Nunca entendi muito bem esse raciocínio. Tampouco compreendia, nos meus tempos de estudante de graduação e de mestrado, a oposição ao patrulhamento da polícia militar dentro dos campos universitários nos quais eu estudava. Havia mulheres sendo assediadas durante a noite, algumas sendo estupradas, e ainda muitos se posicionavam contra medidas de maior segurança. 

Quando li o famoso livro de Jean-Jacques Rousseau, Discurso Sobre as Ciências e as Artes, tive maior contato com esse tipo de pensamento. O ser humano teria nascido bom, mas foi corrompido pela vida em sociedade. Esse trecho mostra a evolução e deterioração de nossa espécie, segundo Rousseau: "A primeira fonte do mal é a desigualdade; da desigualdade vieram as riquezas, pois as palavras pobre e rico são relativas e, em toda parte em que os homens forem iguais, não haverá ricos nem pobres. Das riquezas nasceram o luxo e a ociosidade; do luxo vieram as belas-artes e, da ociosidade, as ciências". 

É uma hipótese quase impossível de ser testada. Como voltar no tempo para observar o comportamento dos primeiros humanos? De qualquer forma, devemos enfrentar a realidade, e essa mostra que para o adequado funcionamento da sociedade, precisamos de incentivos. Em particular, punições previstas para evitar condutas ilícitas. Na ausência de punição, comportamentos incompatíveis com a ordem ocorrem, como os dois citados anteriormente, ou com os de minha experiência como estudante de graduação. Depender do julgamento de cada pessoa é receita para o fracasso. Precisamos da sombra do Leviatã para nossa organização - Leviatã é um monstro marinho usado como metáfora por Thomas Hobbes para ilustrar a ameaça de um poder punitivo para impor ordem na sociedade. No futuro escreverei uma resenha desse livro. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário