Ainda que não tenhamos total noção da estrutura que nos cerca, seguimos incentivos ao realizar nossas ações
O roubo das cargas de um caminhão por pessoas que passavam no caminho me lembrou o trágico episódio da greve da polícia militar no estado do Espírito Santo em 2017. Os capixabas sofreram com vários dias de insegurança, permeados por assaltos, saques e violência. Parecia cena de filme ou de videogame. Nunca esqueci da cena de um rapaz que dirigia o seu carro e foi abordado por um assaltante. Este apenas mostrou a arma e exigiu a saída do motorista. Foi embora com a "recente aquisição", enquanto o rapaz que o dirigia ficou atônito. Provavelmente o carro não estava segurado.
Esses episódios evidenciam a ingenuidade de teorias que pregam uma sociedade sem o poder de polícia. Todos os habitantes viveriam em harmonia. Crimes e outros atos ilícitos não ocorreriam. É uma espécie de bondade coletiva. Nunca entendi muito bem esse raciocínio. Tampouco compreendia, nos meus tempos de estudante de graduação e de mestrado, a oposição ao patrulhamento da polícia militar dentro dos campos universitários nos quais eu estudava. Havia mulheres sendo assediadas durante a noite, algumas sendo estupradas, e ainda muitos se posicionavam contra medidas de maior segurança.
Quando li o famoso livro de Jean-Jacques Rousseau, Discurso Sobre as Ciências e as Artes, tive maior contato com esse tipo de pensamento. O ser humano teria nascido bom, mas foi corrompido pela vida em sociedade. Esse trecho mostra a evolução e deterioração de nossa espécie, segundo Rousseau: "A primeira fonte do mal é a desigualdade; da desigualdade vieram as riquezas, pois as palavras pobre e rico são relativas e, em toda parte em que os homens forem iguais, não haverá ricos nem pobres. Das riquezas nasceram o luxo e a ociosidade; do luxo vieram as belas-artes e, da ociosidade, as ciências".
É uma hipótese quase impossível de ser testada. Como voltar no tempo para observar o comportamento dos primeiros humanos? De qualquer forma, devemos enfrentar a realidade, e essa mostra que para o adequado funcionamento da sociedade, precisamos de incentivos. Em particular, punições previstas para evitar condutas ilícitas. Na ausência de punição, comportamentos incompatíveis com a ordem ocorrem, como os dois citados anteriormente, ou com os de minha experiência como estudante de graduação. Depender do julgamento de cada pessoa é receita para o fracasso. Precisamos da sombra do Leviatã para nossa organização - Leviatã é um monstro marinho usado como metáfora por Thomas Hobbes para ilustrar a ameaça de um poder punitivo para impor ordem na sociedade. No futuro escreverei uma resenha desse livro.
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