sábado, 24 de outubro de 2020

Aumento de impostos, corte de gastos ou crescimento? Qual o caminho para o ajuste fiscal?

Crescimento amenizaria impacto de medidas recessivas, mas ajuste sem corte de gastos seria incompleto

ajuste governo fiscal


Quando um país precisa ajustar suas contas internas, há as seguintes opções para seguir:

a) aumentar os impostos;

b) reduzir os gastos;

c) incentivar o crescimento econômico;

d) combinação das alternativas anteriores;


Recentemente, o presidente da República, Jair Bolsonaro, descartou a primeira opção, dizendo que o Brasil não terá aumento de impostos para o ajuste pós-pandemia. 

Nesse caso, temos de olhar para os cortes de gastos e/ou incentivar a recuperação do crescimento. Sobre a redução dos gastos, tenho escrito em diversas oportunidades a respeito, mostrando minha preferência por esse tipo de ajuste. Em escala internacional, somos um dos países com maior gasto público/PIB, em especial quando o tópico são os benefícios previdenciários

O problema é que o gasto público é excessivamente rígido por lei. Há pouco espaço para cortar gastos no curto prazo. Logo, recorremos a reformas. Todavia, estas têm sido problemáticas, pois há enorme resistência contra a criação e a implementação delas. Apontei a cultura (incorreta) de que o gasto público é panaceia para nossos problemas como explicação para o crescimento contínuo do gasto. Hoje indico os grupos de influência: corporações de funcionários públicos, centrais sindicais, movimentos sociais (não todos) e políticos, que observam com desagrado possíveis reduções de fundos públicos. Para alguns, isso representaria a redução de privilégios, como subsídios para empresários e produtores rurais, para outros, colocaria em risco a base eleitoral. Em conjunto, esses fatores dificultam reduções de gastos. 

Veja o início do texto. Na impossibilidade dos itens a) e b), resta o item c), opção predileta pelos economistas críticos ao ajuste fiscal. Um dos argumentos nos diz que o governo poderia aumentar o investimento público, uma vez que o crescimento econômico que este geraria mais do que compensaria o gasto realizado, culminando no aumento da base tributária, logo, o gasto seria autofinanciável - a dívida seria reduzida. Em momentos pontuais - em conjunturas específicas, atendendo a determinados requisitos -, isso de fato ocorre, mas não é a regra. A regra é a de que gastos superiores aos impostos geram aumento da dívida pública.  

Melhor opção para promover o crescimento econômico é reduzir a burocracia, facilitar a abertura de novas empresas, atrair multinacionais, permitir maior fluxo de pessoas (imigração) e abrir a economia para a entrada maciça de mercadorias estrangeiras. Essas medidas não criariam fardo fiscal, com o benefício de propiciar um ambiente econômico dinâmico, com maior mobilidade social, com ganhos para os consumidores, que teriam mais opções de compras a preços mais baixos. 

Mas voltemos para nossa realidade. Na impossibilidade de reduzir gastos (b), na negação de criar novos impostos (a), e na inexistência de crescimento econômico (c), não vejo outro caminho a não ser o agravamento do quadro fiscal, com possível aumento dos preços. 















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