sábado, 4 de julho de 2020

Resenha: Pessoas, Poder e Lucro: Capitalismo Progressista para uma Era de Descontentamento (Joseph Stiglitz)

Stiglitz propõe agenda política e econômica para revitalizar capitalismo norte-americano

livro economia


Essa é a segunda resenha que escrevo de um livro de Joseph Stiglitz, e não é por acaso. Stiglitz tem se dedicado a instruir o público sobre as dificuldades da economia norte-americana, bem como traçar reformas para recolocar o país no caminho de uma sociedade mais inclusiva e próspera. 

Como no livro O Grande Abismo (resenha aqui), o autor mostra como economia e política se relacionam: a política fornece as condições nas quais os mercados poderão se desenvolver. Logo, os resultados dependerão do formato e da configuração elaborados pelos legisladores. É nesse ponto que Stiglitz concentrará suas críticas. 

A financeirização (crescimento do setor financeiro e a extração de renda das famílias para poucos bancos e gestores), a globalização (aumento da concorrência internacional e redução do emprego para os trabalhadores pouco qualificados) e a mudança tecnológica (surgimento de gigantes digitais, concentrando inovações e com elevado poder de mercado) são explicadas sob o arcabouço de um sistema que privilegia uma pequena elite em detrimento de sua população, especialmente a parte mais pobre. Consequentemente, criou-se um crescente abismo entre os ricos e os desprivilegiados, ou seja, um perigoso processo de desigualdade de renda

Stiglitz argumenta que deveríamos utilizar o termo exploração ao discutir economia e política (livros didáticos de economia não usam esse termo), pois há situações nas quais não há criação de riqueza, mas apenas transferência de renda entre os participantes do mercado. Quando essa alocação de renda ocorre por meio de privilégios (lobbying) e favores políticos, com o fardo se concentrando sobre os pobres e os benefícios para os ricos, temos exploração. 

Para mitigar essa tendência, o autor propõe o aprimoramento da regulação. "The question should always be which regulations, not deregulation". Acrescenta que "No country, no economy, can function without laws and regulations". Ponto no qual estou em total acordo. Os mercados não funcionam em um vácuo, deve-se construir uma estrutura institucional para moldá-lo e colocá-lo a serviço da sociedade, coibindo abusos e práticas que podem prejudicar as partes envolvidas. O exemplo da poluição é clássico: sem regulação, as empresas tendem a poluir cada vez mais, prejudicando o ambiente e as famílias que vivem nas áreas próximas. O governo, por meio de regulação (tributando a quantidade emitida de poluição ou aplicando multas) pode reduzir esse prejuízo. 

A parte principal do livro são as reformas defendidas para revitalizar a economia dos Estados Unidos. Essas reformas reivindicam a expansão da educação e da saúde pública para os mais pobres, investimentos públicos em infraestrutura e pesquisa, reformulação do sistema tributário para torná-lo menos regressivo e regras para conter monopólios e oligopólios. Vale enfatizar, além dessas reformas, uma reforma política (reduzir a contribuição de dinheiro privado para candidatos, maior transparência das empresas que contribuem, entre outras medidas) que consiga mitigar o efeito do dinheiro na formulação das leis. 

O livro se adequá à situação da economia brasileira. Muitos dos problemas discutidos na obra podem ser reposicionados para o Brasil, como o desigual acesso à educação e a redução da influência de grandes empresas sobre as regulações. Portanto, é leitura recomendada para leitores interessados em compreender os problemas contemporâneos e a discutir soluções para os mesmos. 



3 comentários:

  1. Boa tarde professor, eu sei que meu comenéntario foge do escopo do artigo, mas recentemente fui introduzido por amigos à algo chamado Teoria Monetária Moderna desde então estive curioso com essa ideia, fui a sites do Instituto Mises, passando pela Bloomberg, alguns colunistas e até mesmo fontes populistas como o site "Outras Palavras", no entanto não consigo enxergar sua diferença em relação as "injeções fiscais" ou outras politicas econômicas de socorro que aplicamos hoje em dia, se possível poderia me dar uma luz sobre o assunto?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Você não consegue enxergar a diferença da Teoria Monetária Moderna com injeções fiscais porque não há muito a distinguir. Caso você procure por esse termo no principal livro introdutório de economia: Introdução à economia, de Mankiw, não irá encontrar esse termo por lá.
      Acredito que esse vídeo aqui irá te ajudar: https://www.youtube.com/watch?v=OS-KRTsjfNM

      Excluir
    2. Tome cuidado com o Instituto Mises. Eles optaram por seguir um caminho contrário ao que a Ciência Econômica está seguindo. Enquanto o avanço da economia como ciência está atrelado aos avanços da econometria (para testar teorias ou refutá-las), o instituto Mises se recusou a seguir por esse caminho, perdendo, por isso, espaço na Ciência Econômica.

      Excluir