terça-feira, 7 de julho de 2020

Paulo Guedes se equivoca ao menosprezar o Plano Real

Ministro minimiza estabilização dos preços obtida com o Plano Real

plano real


No ano de 1994 a economia brasileira implementou o Plano Real, responsável por eliminar a hiperinflação e colocar os preços do país em patamares civilizados. Não foi pouca coisa. Veja no gráfico abaixo (clique nele para aumentar o seu tamanho) o comportamento da taxa de inflação anual desde 1980. A inflação era tão alta no passado que se torna difícil visualizar o nível da inflação nos anos recentes.
inflação

Tínhamos uma inflação anual de 360% em 1987, a qual quase triplica no ano seguinte, atingindo 980% em 1988. Em 1993, batemos um record negativo, apresentando a maior inflação da série, com valor superior a 2 mil porcento: 2.477%. Em meio a esses números, não podemos esquecer da bagunça que o descontrole dos preços fazia na economia: dificuldade de comparar preços de produtos similares, perda de poder de compra, agravamento da desigualdade de renda (pobres não conseguiam se defender da desvalorização da moeda) e deterioração do ambiente macroeconômico, dificultando a realização de investimentos produtivos e de longo prazo (como comparar cenários de tempo mais longo, quando não há previsibilidade dos preços para calcular a lucratividade e o retorno dos negócios?).

Antes do Plano Real, tivemos 4 planos que tentaram estabilizar os preços, todos tendo igualmente fracassado: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano Verão (1989) e Plano Collor (1990). Em comum, esses planos seguiram teorias incorretas (arrisco a dizer "terraplanismo econômico"), congelando preços e atribuindo reduzida importância à emissão de moeda na explicação para o descontrole dos preços.

O Plano Real não usou congelamento, se preocupou com o excesso de gasto público e a subsequente expansão monetária. Foi o plano que melhor utilizou das teorias econômicas, reconhecendo a importância do sistema de preços na organização da economia.

Em um país que flerta com teorias econômicas terraplanistas, como o câmbio de equilíbrio para resolver o problema de falta de competitividade do setor industrial ou a simples emissão de moeda para eliminar a pobreza, o que o Plano Real fez não foi pouco.

Obviamente, este plano não resolveu todos os nossos problemas. Não existe, na esfera econômica, uma medida universal que acarrete apenas benefícios. A economia é caracterizada por trade-offs, sempre há ganhos e perdas. Mas é verídico afirmar que o Plano Real, ao estabilizar os preços e fornecer horizonte de planejamento de longo prazo, recolocou o país na direção correta.

Por fim, a falta de reconhecimento da importância do Plano Real diz muito sobre o conhecimento em assuntos econômicos dos brasileiros. O ministro da economia do governo de Dilma Rousseff, Guido Mantega, disse em 1994 o seguinte sobre o Plano Real: "É fácil perceber porque essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa". Termino aqui com esses termos: "burra e ineficiente". Todos sabemos como foi a gestão de Mantega na economia. Na verdade, a crise fiscal que enfrentamos é uma herança que esse ministro nos legou. 




















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