sábado, 18 de julho de 2020

Dívida pública/PIB mundial subirá após a Covid-19 e exigirá políticas de ajuste fiscal

Economias deverão discutir trajetórias para administrar dívida pública

dívida


O gráfico abaixo mostra a evolução da dívida pública mundial/PIB dos países ricos e emergentes de 1880 até 2021 - o último ano é uma projeção do patamar que a dívida apresentará no próximo ano. Quatro eventos são destacados, dada a importância que tiveram sobre o endividamento dos países: Primeira Guerra Mundial (1914-1918), Segunda Guerra Mundial (1939-1944), Crise financeira dos EUA (2007) e a atual pandemia (2020).
fmi covid

Começando a analisar as economias avançadas, veja como as duas guerras tiveram elevado custo. Pouco antes da primeira guerra, a dívida pública/PIB pairava em torno de 40%. No final da segunda guerra, a proporção atingiu 120%. A administração dessa dívida nos anos seguintes foi baseada na repressão financeira: governos exerciam maior controle sobre o sistema financeiro, regulando o patamar da taxa de juros (impunham tetos) e especificando condições de financiamento, juntamente com crescente inflação, de forma que o rendimento real (rendimento nominal menos a taxa de inflação) dos títulos públicos era negativo. Nesse caso, a dívida pública/PIB se reduzia ao longo do tempo, sem a necessidade de realizar forte ajuste fiscal. No caso dos indivíduos, era necessário a intervenção do governo por meio de regras/regulações para que aceitassem ativos com rendimento real negativo.

Como pode ser visto no final do gráfico, a Covid-19 jogará para cima os atuais níveis de endividamento - para todos os países, tanto avançados quanto emergentes. O desafio pós-Covid-19, no fronte econômico, será conciliar a recuperação das economias com esse elevado endividamento público. Políticas públicas serão exigidas ao mesmo tempo no qual os orçamentos estarão restritos. 

A história nos mostra como o futuro pode se desenvolver dada a experiência passada. Não será uma grande surpresa caso a repressão financeira seja reativada (discuto isso aqui). Também há a possibilidade de um acordo nos moldes do Plano Brady. No caso desse último, o Plano Brady foi uma intermediação realizada pelo FMI e pelo tesouro dos EUA para aliviar o fardo da dívida dos países em desenvolvimento (maior parte latinos) na década de 1980. Foi acordado entre credores e devedores a consolidação da dívida pública, com a redução da mesma em 35% em média. Indubitavelmente esse acordo foi essencial para a superação da crise da dívida dos anos 1980 - o Brasil foi um dos países que se beneficiaram do plano, permitindo a realização do Plano Real em 1994.

Dessa forma, os próximos meses podem mostrar quais opções serão seguidas. Uma possibilidade é seguir um pouco de cada: um pouco de repressão financeira, um plano internacional para alívio das dívidas e políticas de ajuste das contas públicas (maior tributação e reduções dos gastos públicos). 








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