segunda-feira, 20 de julho de 2020

Avanço da vacina permite vislumbrar cenário de recuperação econômica

Vacina eleva otimismo com o futuro, mas não podemos esquecer dos problemas econômicos internos prévios à pandemia

covid


As notícias sobre a vacina contra a Covid-19 desencadearam ondas de otimismo em todo o mundo. A universidade inglesa de Oxford está na dianteira na corrida para a sua produção, com outros países seguindo de perto, como a China. No caso chinês, seria uma forma de recuperar a queda de sua reputação, em crescente declínio em virtude de ser o local no qual o vírus se originou. 

Provavelmente os mercados de ações irão se valorizar nos próximos dias, com as moedas dos países emergentes recuperando um pouco da perda de valor relativo ao dólar americano. No Brasil, o real pode se valorizar, talvez voltando a apresentar patamar inferior ao de 5 reais por dólar. Difícil realizar previsões acertadas quando o assunto é o câmbio.

Mais importante, porém, é a recuperação da produção. Várias projeções elaboradas pelo FMI e pelo Banco Mundial sinalizam que o próximo ano será de forte crescimento econômico mundial. As economias conseguirão recuperar parte da produção perdida. Algumas, como a chinesa, voltarão à tendência de crescimento anterior ao vírus, enquanto outras economias, como o Brasil, não conseguirão recuperar a perda imposta pelo vírus. 

Essas disparidades de dinamismo decorrem primordialmente da estrutura institucional. Cada nação tem a sua própria interação entre trabalhadores, empresários e empreendedores, com o governo impondo as regras do jogo, na famosa e feliz expressão do Prêmio Nobel de 1993 Douglass North (mais sobre ele aqui). Circundando esses agentes, temos o arcabouço das leis e regulações especificando a forma como a competição e a coordenação se realizam, as leis negativas - oportuno termo cunhado pelo também Nobel de economia em 1974, Friedrich Hayek (mais sobre ele aqui). Quando as instituições são pró-mercado, elas tendem a respeitar a liberdade do empresário, facilitar a aquisição de crédito para a abertura de empresas e a permitir maior competição entre as empresas. Concomitantemente, há uma rede regulatória que inibe abusos, como a vigilância para evitar o surgimento de monopólios por meio de fusões, e dessa forma protegendo os consumidores. Em resumo, dependendo das instituições, o mercado poderá ser dinâmico e inclusivo, implicando em uma recuperação econômica mais rápida.

Há fatores secundários que também ajudarão a explicar o forte crescimento de 2021. Um deles é a capacidade ociosa das empresas. Como a demanda se reduziu durante a pandemia - e continua reprimida -, muitas firmas concederam férias adiantadas, dispensou ou reduziu a jornada de trabalho de seus funcionários. Isso implica em menores compras de insumos, afetando outras empresas fornecedores. E o ciclo prossegue realimentando uma espiral recessiva em toda a economia. Podemos considerar que há recursos ociosos na economia, como capital financeiro parado esperando por projetos produtivos. Tão logo a economia se reative, esse capital irá financiar a expansão de empresas, culminando em maior produção e criação de empregos.

Toda essa breve explanação foi argumentada por John Maynard Keynes durante a década de 1930 (sobre Keynes aqui). Naquele tempo, Keynes disse que o problema econômico da baixa produção, pobreza e conflitos distributivos seria facilmente resolvido, pois as nações avançadas detinham os recursos e as técnicas, bastando se organizarem para recolocar as engrenagens da economia em funcionamento. De fato, foi isso o que ocorreu, embora os países da época tivessem de esperar por alguns anos.

Contemporaneamente temos os recursos, as técnicas e as instituições. O que presenciamos é uma paralisação da utilização desses instrumentos. Temos uma grande incerteza quanto ao futuro, e isso tende a postergar investimentos produtivos. Todavia, a vacina viabilizaria a retomada das atividades. O problema econômico que enfrentamos deixaria de existir.

Mas veja que todo esse texto discutiu a retomada da tendência de crescimento. Antes da eclosão da Covid-19, a economia brasileira enfrentada graves dificuldades para crescer, permeadas com risco de insolvência fiscal. Ainda não superamos esses obstáculos. E os resultados mostram isso: seremos um dos países com menor recuperação econômica pós-covid-19. Para entender isso, temos de olhar para a baixa produtividade da economia e as causas da mesma - lembrando sempre que somos o país emergente com maior dívida/PIB do mundo. Nosso modelo de crescimento não funcionou e precisa ser reparado. Daí a necessidade de reformas.






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