segunda-feira, 4 de maio de 2020

Expectativas desempenharão papel relevante na recuperação do crescimento

Narrativas podem moldar a expectativa com o futuro da economia

narrativas


Conforme o tempo passa, podemos perceber melhor as consequências da Covid-19 sobre a economia mundial, em geral, e sobre a economia brasileira, em particular. Também ajuda o relaxamento de medidas para restringir a mobilidade da população em alguns países, como tem ocorrido na Alemanha e na Áustria. Por meio dessas experiências poderemos avaliar de forma mais precisa os próximos estágios da pandemia.

John Maynard Keynes (1883-1946), na década de 1930, argumentou que um dos fatores que empurram a economia para a letargia são as expectativas. Quando empresários e investidores avaliam de forma desfavorável o ambiente econômico futuro, significando menor corrente de lucro, tendem a postergar projetos de investimento. Isso, por sua vez, enfraquece a demanda da economia, reduzindo contratações de trabalhadores, os quais, agora desempregados, consomem menos, contribuindo mais ainda para arrefecer o crescimento econômico.

Em seu excelente livro, Narrative economics, o prêmio Nobel de economia em 2013, Robert Shiller (1946-presente), utiliza o conceito de expectativas para mostrar como elas interferem sobre a economia. Ele moderniza essa definição ao atrelá-la a outro conceito: narrativas. Vivemos atualmente sobre a influência de várias narrativas, e isso não é um evento inédito, pelo contrário. De acordo com Shiller, um dos principais fatores que possibilitaram a Grande Depressão de 1929 foi a narrativa de máquinas substituindo de forma ampliada o emprego de humanos e do modo de vida modesto como forma de aprimoramento moral. Essas narrativas influenciaram o hábito de consumo de milhões de pessoas, fazendo com que temessem o futuro. Em analogia ao pensamento de Keynes, essas narrativas produziram expectativas pessimistas com o futuro, consubstanciando em medidas precaucionárias, como a redução do consumo e a elevação da poupança, pressionando para baixo o dinamismo da economia.

É inegável que narrativas e expectativas estarão presentes no mundo pós-Covid-19. Caso tenhamos expectativas otimistas com a recuperação econômica, isso irá repercutir nos planos de empresários e investidores, os quais tenderão a expandir o investimento da economia. Por outro lado, um olhar pessimista para o futuro pode barrar a inversão de capital, tornando os consumidores mais renitentes em gastar. Podemos também ter uma combinação de expectativas positivas e negativas. Difícil dizer agora o que irá prevalecer. 

No caso do Brasil, teremos uma dívida pública muito maior, a qual pressionará as receitas do governo (já escrevi muito sobre isso aqui, aqui e aqui). Reformas deverão ser realizadas para reverter a trajetória de expansão da dívida, ou seja, teremos de estabilizá-la - fato muito bem apontado por Persio Arida (texto aqui). Veja que nossos políticos desempenharão papel relevante após a pandemia. Em um cenário no qual estes se omitam da urgência dessas reformas, o mercado interpretará essa omissão como piora dos indicadores fiscais da economia. As expectativas, dessa forma, se deteriorariam. Seria um complicador adicional na recuperação do crescimento.

























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