quarta-feira, 13 de maio de 2020

Financiamento da dívida pública com taxa de juros negativa parece ser o nosso futuro

Repressão financeira pode retornar como forma de financiar a dívida pública

divida publica


Em seu excelente texto, Alexandre Schwartsman afirmou que se o crescimento da dívida pública se descontrolar, o resultado mais provável será um cenário com maior taxa de inflação e um pouco de repressão financeira.

Nossos políticos deveriam estar discutindo reformas para estabilizar o crescimento da dívida pública, como reduzir o crescimento do gasto com servidores públicos, cortar subsídios para empresas e produtores e simplificar o sistema tributário (escrevi sobre isso aqui). Infelizmente - todavia, muito previsivelmente -, a discussão está em realizar um Plano de gastos públicos para financiar investimentos (texto aqui). 

Como resultado, podemos testemunhar o crescimento explosivo da dívida pública. Explosivo porque não haveria nenhuma sinalização mostrando que a dívida seria controlada. Veja que podemos apenas estabilizá-la, ao invés de tentar reduzi-la drasticamente - opção muito difícil e com altíssimo custo, dada a atual conjuntura. 

Evitando as reformas para limitar o seu crescimento, a dívida cresceria, puxando os preços para cima. Caso seguíssemos as equivocadas sugestões para inundar a economia com moeda, poderíamos perder o controle do nível dos preços, abandonando o regime de metas de inflação (texto aqui).

A saída que Schwartsman prevê é uma mistura de alta inflação e baixa taxa de juros. Nesse caso, a emissão de nova dívida se daria com taxa de juros real negativa - credores colocariam dinheiro no Brasil sabendo que perderiam rendimento. O leitor pode questionar: quem aceitaria financiar uma economia instável com perda de capital ao longo do tempo? A princípio, ninguém, mas eis que temos a repressão financeira.

Na repressão financeira, o governo exerce maior controle sobre o mercado financeiro, incluindo o mercado de dívida pública. Ele pode, por meio de regulações e decretos, obrigar a população a adquirir dívida pública. Vivemos nesse cenário durante boa parte do século passado. Dessa forma, a dívida/PIB se reduziria ao longo do tempo com o fardo transferido para a população. É uma opção muito ruim, pois transfere-se a responsabilidade de um gerenciamento perdulário do gasto público para a sua população.

Por fim, isso apenas mostra que não há saída sem custo. Um cenário macroeconômico estável é construído na base de  seguidos esforços, de reformas que melhorem a produtividade da economia, bem como o gerenciamento da dívida pública.


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