quarta-feira, 27 de maio de 2020

Outro Plano Marshall na Europa? União Europeia prepara pacote de 750 bilhões de dólares (4,5 trilhões de reais)

União Europeia propõe ousado pacote para recolocar a economia no trilho

pacote fiscal


A Comissão Europeia anunciou o pacote de respeitáveis 750 bilhões de dólares para reerguer a União Europeia após a pandemia, com prazo de amortização de 30 anos e baixa taxa de juros incidente. Essa bagatela tem como objetivo 5 pontos:

1) reduzir emissões de carbono;
2) digitalizar a economia;
3) construir cadeia de suprimento de produtos (para evitar dependência com importações);
4) exercer maior diálogo com a China e os EUA;
5) auxiliar países membros em situação mais frágil;

O ponto 1 está em conexão com a meta de reduzir a poluição sobre o ambiente (escrevi sobre o aquecimento global aqui). O ponto 2 é uma forma de modernizar a economia, visto que vivemos em um mundo cada vez mais digital, dominado por tecnologias virtuais - predomínio de empresas como Google e Apple confirmam isso. Então, a Europa, sentindo-se um pouco defasada quanto a isso, buscará a recuperação. O terceiro ponto é emblemático, e evidencia o distanciamento comercial da China, movimento já em andamento, como o incentivo de governos europeus para que suas multinacionais abandonem o território chinês. O quarto ponto me pareceu uma forma de reduzir um pouco a impressão que o ponto 3 poderia deixar (uma anti-globalização com a China). Por fim, o ponto 5 é razoável quanto ao objetivo de gerar convergência de renda entre os países do bloco.

Não será fácil aprovar esse pacote, dado que há países que poupam recursos (Holanda, por exemplo), enquanto outros são pródigos (Itália, Espanha e Portugal). Os poupadores, que fizeram o serviço de casa, não consideram muito justo financiar os perdulários. Faz sentido. Diálogos terão de ser implementados para contornar esse ponto.

Mais importante, porém, é que esse pacote possa mostrar um fortalecimento da união fiscal - já temos união monetária, com a moeda comum, o euro. Acontece que os países membros da zona do Euro abdicam da política monetária, logo, possuem um instrumento a menos para realizar políticas de ajustamento em momentos de recessão, como o de agora. Para ficar claro, pense no Brasil. Para se defender da recessão, o país pode reduzir a sua taxa de juros, como tem sido feito, e pode também desvalorizar a taxa cambial para estimular as exportações. Os países do euro, por outro lado, não possuem isso.

Famosos economistas, como Paul Krugman, Jean Tirole e Joseph Stiglitz (resenhas dos dois últimos aqui aqui), todos laureados com prêmio Nobel, sempre alertaram da necessidade da união fiscal, para que países superavitários pudessem auxiliar os menos afortunados. Na falta disso, crises econômicas se tornam um pesado fardo sobre os membros do euro. Esse pacote é um passo para amenizar esse processo.
























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