Falta de ajuste das contas externas é determinante para o calote
Sem grande surpresa, a Argentina não honrou o pagamento de 500 milhões de dólares de juros de sua dívida. Como discuti nesse texto aqui, o país possui baixo patamar de reservas internacionais, então seria muito difícil conseguir pagar as próximas dívidas. Outra evidência do iminente e quase inevitável calote pode ser visto no gráfico abaixo, o qual retrata o saldo da conta corrente do balanço de pagamentos argentino em proporção com o PIB.
A conta corrente (T) do balanço de pagamentos (BP) retrata o comércio de bens e serviços, a conta de remuneração dos fatores de produção e a conta de donativos. Quando o seu sinal é positivo, significa que o país é superavitário, ou seja, consegue exportar mais para o mundo do que importar. Em caso contrário, sendo essa a situação dos argentinos, o país importa bens e serviços mais do que os exporta - sinal de baixa competitividade de sua economia. Também tende a enviar mais recursos para o exterior - muitas vezes como forma de remuneração de empresas que operam no seu território.
Pela contabilidade social, sabemos que o saldo da conta corrente (T) mais o saldo da conta de capital autônomo (Ka), entrada de investimento estrangeiro, representam o saldo do balanço de pagamentos (BP). Também sabe-se que o sinal trocado do saldo do balanço de pagamentos representa o capital compensatório (Kc), as reservas internacionais. Ou seja:
T + Ka = BP e BP = -Kc
Em outras palavras, quando o país tem déficit no balanço de pagamentos, ele tende a perder reservas internacionais. Também podemos afirmar que países com déficits na conta corrente (T) tendem a se endividar em moeda estrangeira (precisa-se da entrada de capital para financiar as importações, ou seja, precisa-se de Ka e Kc).
Por isso que os crescentes déficits correntes da Argentina são insustentáveis. Caso ela não altere a sua política externa, tenderá a ter mais defaults (calotes). As opções para o ajuste externo são as seguintes:
i) desvalorização da taxa de câmbio real;
ii) redução do PIB;
iii) redução das importações;
iv) promover a eficiência de suas empresas;
v) elevar a taxa de juros interna;
vi) controlar a entrada e saída de capital;
Todas essas opções guardam vantagens e desvantagens - em outros textos irei discuti-las. Não há como fugir desses trade-offs, mas também a situação atual do país é insustentável. Portanto, agir é preciso.
“Se uma situação não pode ser sustentada, ela não o será” (Herbert Stein).
“Se uma situação não pode ser sustentada, ela não o será” (Herbert Stein).
Fonte do gráfico (Banco Mundial): https://data.worldbank.org/indicator/BN.CAB.XOKA.GD.ZS?view=chart
Nenhum comentário:
Postar um comentário