terça-feira, 5 de maio de 2020

Ilan Goldfajn explica o irrealismo da ideia de emissão de moeda sem custo para a sociedade

Ex-presidente do banco central dá uma aula de economia monetária

banco central


Ilan Goldfajn reconhece a conjuntura dificílima que se impõe sobre a economia brasileira e, como Persio Arida (texto aqui), recomenda políticas para aliviar o estresse dos mais vulneráveis. Esse alívio, na esfera da saúde, significa poupar vidas, na esfera econômica, evitar uma queda maior da produção e do emprego.

Como levantado por vários outros economistas (aqui e aqui), Goldfajn prevê forte crescimento da dívida pública. Entretanto, o desafio brasileiro será maior porque já entramos na crise em uma situação fiscal crítica. Enquanto a média da dívida/PIB dos países emergentes é da ordem de 50%, a brasileira é de 76%. 

Ilan critica propostas de enfrentar a crise desprovidas de uma clara mensagem do custo que elas carregarão e implicarão no futuro. Argumenta que toda solução envolverá algum custo para a sociedade. 

Sobre a ideia da possibilidade de emissão de moeda sem custo, Ilan mostra todo o seu talento na área de política monetária. Ele afirma que a emissão de moeda significa a expansão do passivo do banco central. Ao expandir a moeda, o banco central eleva a razão reserva bancária/depósitos voluntários. Esse aumento ocorre sempre que o banco central opta por adquirir algum ativo ou conceder crédito (depósito voluntário é o mesmo que reserva bancária remunerada). 

Prossegue dizendo que o passivo do banco central é uma dívida do governo. Dessa forma, ao expandir a moeda, elevando o passivo reserva bancária/depósito voluntário, aumenta-se a dívida pública.

Afirma que tanto as reservas bancárias remuneradas quanto as compromissadas são remuneradas à taxa de juros Selic. Assim podemos perceber que esse custo seria absorvido pela sociedade. Além disso, a sociedade (credores e investidores) deve aceitar financiar o passivo à taxa de juros Selic, caso contrário, o banco central não conseguiria expandir a moeda mantendo o equilíbrio macroeconômico. A economia brasileira apresentaria grandes problemas, pois poderíamos testemunhar a saída de capital do país.  

Um mix de políticas que poderia funcionar é a desvalorização controlada do câmbio com a redução da taxa de juros Selic. A queda do valor do real poderia atrair investidores que esperassem uma apreciação futura do real, e assim poderiam trocar mais reais por dólares, ao mesmo tempo aceitando o risco de financiar o país a uma taxa de juros menor. Veja que uma desvalorização descontrolada do real colocaria o Brasil em dificuldades, pois os investidores perderiam a confiança em uma apreciação futura do real. Também note que apenas reduzir a taxa de juros Selic pode ser arriscado, dada a possibilidade dos investidores optarem por evitar o risco de valorizar as suas poupanças no Brasil.

Ilan lembra que o banco central controla apenas a taxa de juros de curto prazo (Selic), mas não a de longo prazo, a que é utilizada para a venda de títulos públicos. Consequentemente, a disparada do risco-país pode acarretar em elevada taxa de juros de longo prazo, impossibilitando a rolagem da dívida pública, e desencadeando a saída de capitais e uma avassaladora crise econômica.

Manter o equilíbrio econômico é uma tarefa árdua. Ilan mostra como ele pode se desfazer e dificultar a recuperação econômica do país. Ele termina o texto dizendo que são os autônomos, os informais e as pequenas e médias empresas que precisam receber imediato auxílio financeiro. E volta a criticar o irrealismo de ideias de emissão de moeda sem custo.

Recomendo a leitura do texto, é uma aula de economia monetária. 

Fonte: Folha de S. Paulo






















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