segunda-feira, 25 de maio de 2020

Governo negocia empréstimo de 4 bilhões de dólares

Negociação por empréstimo de 4 bilhões de dólares mostra que podemos sofrer restrições fiscais

empréstimo


O governo brasileiro está negociando empréstimos em dólares para financiar suas políticas para conter os efeitos econômicos e sociais adversos da pandemia. De acordo com a reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o valor é de 4,1 bilhões de dólares, equivalente a 22 bilhões de reais. Algumas das agências internacionais envolvidas são o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a CAF (Corporação Andina de Fomento). 

Esse fato pode suscitar dúvidas para aqueles que pensavam que o Brasil não sofreria de problemas de liquidez, pois possui grande quantidade de reservas internacionais

Bem, vamos por partes. É verdade que o país possui elevada reserva internacional, mas como mostrei nesse artigo aqui, temos também passivos em dólares, ou seja, parte das reservas estão comprometidas com dívidas - e futuras necessidades de pagamento em dólares, como as importações de bens e serviços. Como explicou o ex-presidente do banco central, Ilan Goldfajn (texto aqui), por lei, o banco central não pode utilizar suas reservas para financiar políticas públicas. Em outras palavras, embora tenhamos um patamar significativo de reservas, não estamos tão bem protegidos, em um futuro próximo, de eventuais escassezes de dólares.

Outro ponto é que o mercado financeiro está mais relutante em financiar os gastos públicos do Brasil. Isso foi visto pelo aumento do risco-país (escrevi sobre isso aqui), consubstanciado em maior taxa de juros sobre a dívida pública. Então, se o governo precisar emitir título para gasto corrente, ele pagará maior quantidade de juros. A nossa dívida está ficando mais cara.

Dessa forma, faz sentido se endividar em dólares, pois a taxa de juros é menor, e também, algo não mencionado na reportagem, como nosso câmbio está desvalorizado, a entrada de dólares significará maior quantidade de reais. Consequentemente, o governo deve ter pensado que no futuro a taxa de câmbio estará menos desvalorizada, logo, o pagamento desse empréstimo em dólares seria mais fácil (teríamos de trocar menos reais por dólares, o inverso da situação atual).

A notícia de que o governo está procurando empréstimo internacional é boa no sentido de mostrar que nosso governo enfrenta restrições para expandir o gasto público. É equivocado pensar que o banco central pode simplesmente emitir moeda, e tudo se resolverá. Também é enganoso achar que basta o Tesouro emitir títulos públicos que poderemos facilmente financiar o gasto adicional. A vida prática é mais dura do que isso. E o custo de soluções fáceis - e ilusórias - sempre chega.




























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