quinta-feira, 28 de maio de 2020

Resenha: Capitalismo na América (Alan Greenspan e Adrian Wooldridge)

Ascensão dos EUA de colônia para potência mundial é descrita com um olhar para entender o atual quadro de paralisação econômica do país

capitalismo na América


Alan Greenspan, presidente do banco central dos Estados Unidos  (EUA) durante o período de 1987 a 2006, e Adrian Wooldridge, um dos editores da prestigiosa revista The Economist, juntaram talento e experiência para escrever o livro Capitalismo na América, obra que descreve a ascensão de 13 pequenas colônias em potência mundial.

No início do livro, os autores citam algumas das grandes contribuições dos EUA para a humanidade, como as inovações tecnológicas que permitiram maior conforto e lazer nas nossas vidas: o ar-condicionado, a eletricidade e a disseminação do uso do motor de combustão interna. Os EUA também foram responsáveis pela produção em massa, fazendo com que produtos tidos como de luxo, portanto, consumidos por uma minoria rica, fosse disponibilizado para toda a população - democratizou-se o consumo.

Essa pequena introdução funciona como reflexão para o cenário atual dos EUA. Atualmente o país está em desaceleração produtiva, perdendo dinamismo ao longo dos anos, em forte contraste com a sua história de ascensão (veja o gráfico abaixo). Como a produtividade é o principal motor para a prosperidade, essa situação é preocupante para o futuro do país.

wooldridge

Greenspan e Wooldridge enfatizam 3 termos centrais na obra: produtividade, destruição criativa e política. Já falamos do primeiro. Todos os países, sem exceção, debatem de uma forma ou  de outra o conceito de produtividade. Todas as economias buscam elevá-la, embora poucas tenham êxito na tarefa. O segundo ponto é o termo criado por Joseph Schumpeter (resenha aqui) para descrever o processo de inovações tecnológicas, as quais tornam produtos obsoletos, sendo substituídos por outros mais avançados e que melhor se adequem aos gostos dos consumidores. Implicitamente nessa dinâmica, firmas que não conseguem acompanhar as mudanças do mercado perdem espaço, dando lugar para empresas mais inovadoras, mais eficientes, mais produtivas. Pense nas corporações que produziam e vendiam videocassetes na década de 1990, e veja o que ocorreu com elas quando os DVDs chegaram. Isso para não mencionar o contexto atual de tecnologias streaming, as quais dispensam tanto videocassetes quanto DVDs. É a destruição criativa, processo que permeou a ascensão dos EUA.

O último termo é a política, a qual dialoga constantemente com a economia, moldando os mercados e podendo fazê-los mais ou menos produtivos. Mais receptivos a inovações ou mais atrasados, fechados. Os autores mostram que ao longo da história americana a política sempre teve papel relevante sobre a economia, mesmo quando o livre mercado foi a regra (século XIX). 

Importante ponto do livro é o esforço de explicar a perda de proeminência dos EUA. Os autores assinalam 2 eixos. O primeiro é a disseminação e o crescimento da concessão de benefícios sociais para a população (entitlements). Eles argumentam que esse gasto expulsou o investimento produtivo, na medida em que o Estado precisou deslocar a poupança para financiar gastos correntes. A população passou a reivindicar cada vez mais direitos. 

O segundo ponto é a excessiva regulação na economia, atrasando os planos de investimento de empresários, e até mesmo os trabalhadores, quando exigidos a apresentar licenças para executar determinadas tarefas. Veja no gráfico abaixo o crescimento das páginas de regulamentos para controlar o mercado. De 60 mil páginas de regulamentos em 1975, o número saltou para 180 mil em 2015. O crescimento das regras foi significativo. 

wooldridge

Esse é um debate quente. Enquanto Greenspan e Wooldridge apontam a culpa para o crescimento dos gastos sociais e a regulação, Joseph Stiglitz argumenta que os responsáveis pela desaceleração do crescimento norte-americano foram o aumento da desigualdade de renda e a desregulamentação do mercado financeiro (resenha aqui). Está em aberto essa discussão.

O livro tem várias partes importantes, como a discussão da Constituição dos EUA, o surgimento da Grande Depressão de 1929, os anos de ouro após a Segunda Guerra Mundial, entre outros. É um convite para analisar a história com ferramentas econômicas. Leitura recomendada para aprofundar os conhecimentos nesses campos.

















































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