terça-feira, 12 de maio de 2020

ONU alerta que 5,4 milhões de brasileiros poderão entrar na faixa de extrema pobreza

Falta de foco na política econômica é empecilho para mitigar a pobreza

ONU extrema pobreza


O chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos, Daniel Balaban, agência humanitária da Organização das Nações Unidas (ONU), alertou que o número de brasileiros vivendo em extrema pobreza pode se elevar em 5,4 milhões com os desdobramentos da pandemia.

Atualmente temos 9,3 milhões de brasileiros nessa situação. São pessoas que sofrem episódios constantes de privação de comida, vivem com no máximo 1,90 dólares por dia (equivalente a R$11,21 com o dólar a 5,90). Como alertei nesse texto aqui, muitos desses são os brasileiros "invisíveis", os quais não constam no sistema, não têm existência digital - consequentemente, programas de auxílio público não os atinge.

No mundo, o número de pessoas que sofrem essa privação é de 821 milhões. Daniel aponta que outros 135 milhões podem entrar nesse número devido à falta de redes de segurança pública - como falta de auxílio financeiro e de programas de subsídio.

Ele se mostra preocupado com a falta de liderança política no Brasil. Há mensagens divergentes vindas do presidente Bolsonaro, e outras advindas dos governadores. Isso prejudica o isolamento e cria a difusão de teorias incorretas, mal elaboradas e fake news sobre a Covid-19, acarretando em um cenário pior para os mais frágeis.

Meus comentários sobre isso. O economista Daniel está correto em alertar as autoridades sobre esse quadro. Por outro lado, esse cenário é um reflexo da incapacidade do governo brasileiro em exercer suas funções. Veja por exemplo a dificuldade de localizar os brasileiros "invisíveis". Com isso, os auxílios financeiros promovidos pelo banco central e pelo governo tendem a ser direcionados para pessoas em melhores condições do que os extremamente vulneráveis. Idem para o caso das empresas. Enquanto as pequenas e médias empresas sofrem crescentes perdas de receitas, algumas chegando ao ponto de serem obrigadas a fecharem, as grandes conseguem aportes monetários.

Outra dificuldade é a falta de autoridade e direção na pasta de economia. Bolsonaro tem sabotado Paulo Guedes várias vezes. A mais recente foi sobre o congelamento dos salários dos servidores. Guedes se posicionou a favor da medida, mas Bolsonaro, nos bastidores, combinou outro rumo com o líder do governo na Câmara

Rogério Marinho tem costurado um Plano de investimento público de 8 bilhões para reanimar a economia brasileira após a Covid-19. Novamente contra a vontade de Guedes, e novamente com o apoio de Bolsonaro.

Minha crítica é que o congelamento de salários públicos serviria como fundo para beneficiar os mais vulneráveis. O mesmo é válido para o plano de Rogério Marinho de 8 bilhões. Serão 8 bilhões a menos para gastarmos em auxílio aos vulneráveis. Temos uma mistura de erros de concepção, de entendimento do problema e de foco. E quem pagará o preço serão os 5,4 milhões que entrarão na faixa de extrema pobreza.



Fonte: Estadão





























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