segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Capacidade de expandir gasto público encolhe nas economias emergentes

Mais uma evidência de que os recursos são escassos

emergentes


No início da pandemia, por volta da metade de março desse ano, havia expectativas de que uma possível vacina fosse criada um pouco depois do meio desse mesmo ano. Hoje já sabemos que foi puro otimismo, e que as previsões apontam para uma vacina por volta de dezembro/janeiro/fevereiro (estou desconsiderando a vacina russa, por causa da falta de transparência em seus testes). No tocante à economia, particularmente aos países emergentes, grupo no qual o Brasil se encaixa, esse alongamento da pandemia representou uma quase exaustão de espaço fiscal para realizar políticas de auxílio emergencial para a população. Veja o gráfico abaixo, do FMI, relacionando o risco país (risco do país cometer calote da dívida) com a dívida pública/PIB de economias emergentes. 
dívida

O FMI alerta que o espaço para aumentar o gasto público desses países praticamente se esgotou. No gráfico, temos vários pontos vermelhos, representando os casos mais críticos - embora não tenha sido mencionado no texto, o Brasil é um desses pontinhos vermelhos. Os pontos amarelos são casos intermediários, enquanto os 3 pontos verdes ainda possuem espaço fiscal. Quando a pandemia eclodiu, essas economias expandiram o crédito para pequenas e médias empresas e forneceram transferências de renda para a população. Foram políticas para mitigar a severidade da Covid-19, mas com a contrapartida do aumento do endividamento em economias praticamente paralisadas, portanto, com queda das receitas.

Como tenho argumentado em alguns textos, a economia brasileira entrou na pandemia já em crise fiscal, por gastar, invariavelmente ao longo dos anos, mais do que arrecada, um problema estrutural, pois leis federais tornam o gasto rígido. Por outro lado, as receitas são flexíveis, dependem de como a economia caminha. Quando esta tropeça - assim como a situação fiscal, entramos também na pandemia com uma economia fraca, com baixo crescimento - as receitas públicas mergulham, agravando o déficit público e a dívida pública. Em outras palavras, entramos na pandemia com baixo espaço fiscal, e o prolongamento da Covid-19 tende a piorar esse quadro. 
resiliência

Nesse quadro acima, extraído da The Economist, ela fez um ranking em relação à capacidade financeira das economias emergentes frente à pandemia. Veja que o primeiro lugar coube ao Botswana, o segundo ao Taiwan e o terceiro à Coreia do Sul. O Brasil ficou em 30°, com a Argentina em 57° e a Venezuela com a lanterna, na posição 66°. No caso da primeira colocada, a Botswana tem dívida pública controlada, contas externas em ordem e elevada taxa de poupança. A consequência é uma baixa taxa de juros sobre a dívida pública, facilitando o financiamento do gasto do governo. Nada de novo. Quem administra bem suas contas, gasta menos do que arrecada e mantém uma economia razoavelmente produtiva, apresenta margem para gastar quando momentos adversos aparecem.

Obs.: aqui tem o texto no qual apresento o ranking em maiores detalhes e explico o porquê do primeiro lugar da Botswana. 











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