Prêmio de risco se eleva com pressão para revogar o teto do gasto público
Como alertado por alguns economistas nos meses anteriores, reduzir a taxa de juros Selic não implica, necessariamente, na redução do custo de financiamento da dívida pública. Isso ocorre porque a taxa de juros envolvida no financiamento do gasto público é a taxa de juros de longo prazo, variável não controlada pelo governo. A taxa de juros Selic, por sua vez, é uma taxa de curto prazo.
Reportagem da Folha de S. Paulo apresentou a figura abaixo, na qual temos diferentes títulos da dívida, variando o prazo de resgate (data na qual o governo devolve o dinheiro tomado emprestado acrescido de juros). Observe que conforme o prazo de resgate se eleva, os juros incidentes também sobem. Relação normal e regra de aplicações financeiras: quanto maior o prazo do investimento (menor liquidez), maior a sua rentabilidade - em geral isso se explica por conta do maior risco envolvido em períodos mais longos de aplicação.
Os títulos com vencimento em 2031 estão remunerando a uma taxa de juros de 7,1%, muito superior às taxas dos títulos de curto prazo, como o de 2021, com juros próximos de 2%. A pergunta prossegue: se a taxa de juros Selic caiu na semana passada para 2%, por que os títulos de longo prazo aumentaram suas respectivas taxas de juros? (governo pagará mais, e o investidor receberá mais por ele).
Conforme discutido nesse post aqui, o ex-presidente do banco central, Ilan Goldfajn, explicou que devemos olhar para o ambiente macroeconômico. Quando este se deteriora, ou há a expectativa de sua piora, os credores da dívida pública passam a exigir maior taxa de juros para compensar o risco de um possível calote (default) - também chamado de prêmio de risco. Como nas últimas semanas nossos políticos e alguns analistas voltaram a flertar com a revogação do teto do gasto público - juntamente com as baixas do Ministério da Fazenda (discuti aqui) -, e como tal movimento implicaria na piora do gerenciamento das contas públicas, com possíveis efeitos adversos sobre a sustentabilidade do endividamento, o prêmio de risco do país aumentou.
Não deveríamos olhar apenas para a taxa de juros Selic, mas principalmente para o todo, para a big picture, conforme explicado por Ilan.
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